Quem acompanha as notícias sobre o coronavírus deve ter ficado surpreso com o aumento abrupto no número de casos e mortes anunciados nesta quinta-feira (13). Da noite para o dia, a China teve um salto nos registros, em função de uma nova metodologia usada para diagnosticar o vírus na província de Hubei. Se antes eram exigidos testes laboratoriais para confirmar a contaminação, agora são considerados relatórios clínicos de sintomas e exames de imagem dos pulmões.
Com isso, houve a notificação de 242 mortes e 14.840 novos casos de pessoas infectadas. Para se ter uma ideia, no último relatório emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na quarta-feira (12), eram 97 óbitos e 2.022 casos detectados a mais do que no dia anterior em todo o país. A mudança, alega a Comissão de Saúde de Hubei, significa que os pacientes podem receber tratamento "o mais rápido possível" e ser "consistentes" com a classificação usada em outras províncias.
Enquanto a medida é considerada positiva do ponto de vista do controle do vírus, ela é imprecisa para o fornecimento de dados epidemiológicos, avalia a infectologista Lessandra Michelin, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
— Estávamos notando que os casos estavam exponenciais. Quando usamos a metodologia laboratorial, temos a confirmação. Entendo que a metodologia que diagnostica por sintomas e exames de imagem é excelente como triagem, não como diagnóstico. Como método para controle do país funciona, mas para a vigilância epidemiológica vira uma bagunça. Quando aumentam os casos, as pessoas acham que o vírus está se espalhando mais rápido, mas não. Foi só a metodologia que mudou — pondera a médica, que defende o uso de testes rápidos para melhorar o diagnóstico da doença.
Embora menos confiáveis, esses novos critérios têm como objetivo reduzir o tempo de espera entre o surgimento dos sintomas e o início do tratamento.
— Quando houve uma epidemia de H1N1, se tínhamos um caso de pneumonia, tratávamos como H1N1. A metodologia antiga demora mais e faz com que se perca tempo de tratamento e de manejo, contudo exames de laboratórios têm confiabilidade maior — diz Lessandra.
Por outro lado, defende Claudio Stadink, médico do controle de infecção da Santa Casa de Porto Alegre, como as autoridades locais já conhecem a evolução da epidemia, estão credenciados a colocar a nova metodologia em prática.
— Qualquer surto ou epidemia exige teste de difícil realização. Acredito que estamos indo para um número mais próximo da realidade, principalmente a respeito da mortalidade. Seria uma irresponsabilidade manterem as mortes com dados subestimados. Vejo com bons olhos a mudança, mas fica uma desconfiança, afinal, a China já foi criticada por sua falta de transparência em outras epidemias — fala.