A multiplicação do número de brasileiros suspeitos de estar com coronavírus não deve ser tomada como um indicativo de proliferação do vírus no país, afirmam especialistas.
Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, divulgados nesta quinta-feira (27), há 129 casos suspeitos no Brasil, 21 deles no Rio Grande do Sul. Menos de uma semana antes, na sexta-feira anterior, um único paciente encontrava-se sob investigação.
Esse crescimento expressivo é atribuído a fatores como a mudança no critério para colocar uma pessoa sob suspeita e o aumento da preocupação dos brasileiros que viajaram a locais atingidos pela epidemia. A tendência é que a grande maioria dos casos, senão todos, seja descartada como coronavírus. Dos 61 que já foram avaliados no país, só um foi confirmado até o momento.
Especialistas ouvidos por GaúchaZH afirmam que a escalada na quantidade de pacientes considerados suspeitos já era esperada, a partir do momento em que o Ministério da Saúde ampliou a lista de países que devem ser considerados. Até a quinta-feira da semana passada (20), só a China aparecia na listagem. No dia seguinte, as autoridades brasileiras arrolaram mais sete países, todos asiáticos. Na segunda-feira (24), o número foi revisto: alcançou um total de 16 países e passou, pela primeira vez, a incluir nações europeias – Alemanha, França e Itália.
Pelas diretrizes em vigor, pacientes que estiveram nos países listados e que apresentam sintomas como febre, tosse ou dificuldade para respirar são classificados como casos suspeitos. Com a ampliação de um para 16 países na lista, portanto, era natural que os pacientes observados se multiplicasse, principalmente a partir da inclusão de nações europeias.
— Quando houve a ampliação para 16 países, e particularmente para países da Europa, aumentou muito a possibilidade de enquadramento como caso suspeito, por causa do fluxo de brasileiros para a Europa. Nesta época de Carnaval e de férias, muitos brasileiros viajaram para lá e agora estão voltando — diz Marcelo Vallandro, do Centro de Informações Estratégicas e Vigilância em Saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.
Vallandro observa que esses viajantes saem do inverno europeu para o verão brasileiro, um choque térmico que pode favorecer sintomas respiratórios.
— Além disso, as pessoas estão mais preocupadas. Vêm da Europa, têm uma síndrome gripal, desconfiam que estão com coronavírus e procuram atendimento. Mas não há nenhuma relação entre o aumento no número de casos suspeitos e no número de confirmações. O que acontece é que a definição de casos suspeitos ficou mais sensível e pega mais pessoas — afirma Vallandro.
Luciano Goldani, professor de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem o mesmo parecer, reforçando que a expansão na quantidade de casos suspeitos se relaciona com o fato de que o fluxo de brasileiros para a Europa ser elevado, muitas vezes superior ao dos que vão à China.
— O problema é que as manifestações clínicas do coronavírus são muito parecidas com qualquer tipo de gripe e de infecção respiratória. Antes, só preocupava quem tinha esses sinais e vinha da China. Com o aumento de países, era natural que crescesse o número de casos suspeitos. Mas casos suspeitos não se traduzem em casos confirmados. Pode ser que nenhum caso se confirme. Não há motivo para alarmismo — observa Goldani.
GaúchaZH solicitou uma avaliação do Ministério da Saúde sobre o significado do aumento de pacientes sob investigação, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. Na quinta-feira (27), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, também havia associado o crescimento de casos suspeitos ao fato de países com grande fluxo de viajantes brasileiros terem ingressado no rol dos que motivam precauções.