Nascemos fazendo check-up. Na maternidade, passamos por três exames que nortearão o rumo a seguir. Ainda no primeiro mês de vida, temos mais um teste importante. É apenas o começo de uma vida cujas visitas ao médico poderão se tornar periódicas, em alguns casos, ou esporádicas, em outros. Contudo, todas as pessoas devem ter conhecimento sobre o estado geral da própria saúde.
Mais do que uma bateria de exames de imagem e laboratoriais, o check-up é uma avaliação médica de caráter preventivo, levando em consideração a faixa etária, o sexo do indivíduo e as condições de vida – incluindo as familiares, profissionais, sociais e ambientais. Especialistas são unânimes em afirmar, porém, que não há uma tabela de exames comuns para todos os pacientes, de acordo com a faixa etária. Cada indivíduo é único.
Apesar disso, a pediatra Silvana Marcantonio, do Hospital Moinhos de Vento, destaca que há recomendações gerais dos exames mais importantes a serem realizados até os 18 anos.
– O bebê passa por triagens fundamentais, como a metabólica e o teste do pezinho, a auditiva, a escuta do coração e o teste do olho vermelho, (TRV) ou “do olhinho”. No primeiro ano de vida, ele ainda passará pela triagem da deficiência de ferro para identificar a possibilidade de anemia. Entre os nove e os 11 anos, meninos e meninas precisam fazer a triagem de doenças de dislipidemia, coletando sangue para ver como está o colesterol. No final da adolescência, recomenda-se a realização de hemograma e de nova averiguação do colesterol – aponta Silvana.
A partir dos 20 anos, todo indivíduo precisa ter conhecimento sobre o histórico familiar de doenças e saber a sua pressão arterial, as taxas de glicose e de colesterol, defende o chefe do Ambulatório de Check-up do Hospital Moinhos de Vento, cardiologista Enio Casagrande. Esses dados devem ser revisados a cada cinco anos, sendo o hemograma o primeiro passo nesse caminho, ele diz. A partir desse exame é possível avaliar os índices de colesterol, glicose, hormônios, vitaminas e sais minerais no sangue, permitindo identificar sinais de doenças ou disfunções em diferentes partes do corpo. Pacientes de baixo risco, que não apresentam alterações, podem refazer a avaliação, em média, a cada três a cincos anos. Se houver alterações, o médico orientará a periodicidade e poderá incluir outras análises.
Já o chefe do serviço de Emergência da Santa Casa de Porto Alegre, Leonardo Martins Fernandez, aponta que fatores de risco comportamentais – ingestão de álcool em grande quantidade, sexo sem prevenção, aumento acentuado de peso, falta de exercícios físicos e histórico familiar de doenças – podem influenciar na quantidade de exames a serem realizados, principalmente no início da fase adulta – entre 18 e 30 anos.
– Sempre há exceções. Mulheres saudáveis devem consultar o ginecologista uma vez por ano, a partir da ativação da vida sexual. Homens saudáveis, a partir dos 45 anos, devem consultar o urologista anualmente. Se o indivíduo mantém uma vida com hábitos saudáveis, o primeiro check-up pode ser realizado a partir dos 40 anos. Para isso, sugiro a consulta com um clínico geral que, se necessário, encaminhará aos especialistas – indica.
A partir dos 50 anos, a carga de exames anuais pode se intensificar, dependendo do paciente, alerta o especialista em geriatria e pneumologista Eduardo Garcia, da Santa Casa de Porto Alegre. Ele faz questão de ressaltar que o check-up em homens e mulheres com mais de meio século de vida é diferente daquele realizado em crianças e adultos mais jovens, porque varia conforme a condição de saúde de cada paciente.
O caminho do check-up, em todas as fases
- Início da vida
Triagem auditiva neonatal (TAN) ou teste da orelhinha – Procedimento de extrema importância ao diagnóstico de alguma deficiência auditiva. A TAN deve ser feita nos primeiros dias de vida. Previne problemas de fala, linguagem e deficit cognitivo.
Teste do coraçãozinho – Feito antes da alta hospitalar para rastrear cardiopatias congênitas.
Teste do reflexo vermelho (TRV) ou teste do olhinho – Exame para detecção precoce de patologias oculares congênitas que comprometem a transparência do meio ocular e que podem impedir o desenvolvimento visual. Consiste na observação do reflexo vermelho da retina do paciente com o auxilio de um oftalmoscópio.
Teste do pezinho – Permite detectar uma série de doenças, como toxoplasmose, hipotireoidismo congênito, deficiência de biotinidase, hiperplasia adrenal congênita, fibrose cística, doenças falciformes, rubéola e doenças metabólicas, genéticas ou infecciosas. - Com um ano de idade
Teste para anemia – Feito por meio de um exame de sangue. A anemia pode causar fraqueza e atraso no desenvolvimento da criança, sendo por isso tão importante diagnosticá-la o mais cedo possível.
Primeira consulta com o dentista – Para a prevenção de cáries e gengivites. - Entre nove e 11 anos
Triagem para dislipidemias (elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma ou a diminuição dos níveis de HDL que contribuem para a aterosclerose) – Coletas de sangue para medidas que incluem colesterol total, triglicerídios, HDL e LDL. - Entre 17 e 20 anos
Hemograma – Exame de sangue que avalia os índices de sais minerais, vitaminas, colesterol, glicose e hormônios no sangue. Esse exame consegue dar uma visão sistêmica do corpo, permitindo identificar sinais de doenças ou disfunções. Nova triagem para dislipidemia.
A partir do início da vida sexual (para mulheres) – Consulta anual com ginecologista. - Com 25 anos
Hemograma – Pacientes saudáveis devem repetir o hemograma realizado entre os 17 e 20 anos. - Entre os 30 e os 40 anos
Colonoscopia – Identifica doenças no intestino. A regularidade do exame será apontada pelo médico, dependendo do caso. - A partir dos 35 anos
Mamografia e ecografia mamária – A mulher deve fazer os primeiros exames na mama para identificar se há a existência de algum nódulo. A avaliação deve ser realizada anualmente. O autoexame nos seios deve ser realizado sempre depois da menstruação. - A partir dos 40 anos
Hemograma – Deve ser realizado anualmente.
Exames de laboratório – Creatinina, ureia, tireoide, glicose, colesterol, triglicerídeos, de urina e de fezes – deve ser realizado anualmente.
Ecografia abdominal total – Identifica alterações no abdômen, vizualizando órgãos internos, como fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço, rins, útero, ovário, bexiga e próstata. Recomendada a cada dois anos.
Ecodopler de carótidas – Indicado para pacientes com histórico familiar de pressão alta, colesterol alto e casos de AVC. Exame complementar de diagnóstico que mostra a anatomia e circulação nas artérias carótidas e vertebrais (que fornecem sangue para o cérebro).
Tomografia de tórax de baixa dose – Recomendada para fumantes. Rastreia lesões pulmonares suspeitas.
Consulta com urologista (para homens) – O especialista deve ser visitado anualmente para averiguar a próstata. O tamanho de uma próstata normal é de até 30 gramas.
Avaliação dermatológica – Para homens e mulheres. Previne o câncer de pele. - Acima dos 50 anos
Colonoscopia – Deve ser rotineira a cada cinco anos. Antes dessa idade, se tiver sintomas intestinais ou histórico familiar de pólipos ou câncer de intestino precoce (antes dos 60 anos). A regularidade do exame será apontada pelo médico, dependendo do caso.
Eletrocardiograma em repouso – Detecta arritmias, aumento de cavidades cardíacas, patologias coronarianas, infarto do miocárdio e outros diagnósticos. Permite avaliação da atividade cardíaca em repouso. Deve ser feito anualmente.
Densitometria óssea – Serve para verificar a densidade dos ossos e deve ser realizada para verificar a ocorrência de osteoporose. Em indivíduos saudáveis, o exame é recomendado a cada dois anos.
Teste de Vitamina D e Vitamina B12 – Deve ser realizado a cada dois anos. O exame de Vitamina D é indicado de acordo com o nível de exposição ao sol.
Escore de cálcio coronariano – Avalia e quantifica a presença de cálcio nas artérias do coração. Serve para descobrir se um paciente pode desenvolver problemas cardíacos. Pode ser indicado a partir dos 40 anos para fumantes.
Fontes: Silvana Marcantonio, pediatra do Hospital Moinhos de Vento, Leonardo Martins Fernandez, chefe do serviço de Emergência da Santa Casa de Porto Alegre, Eduardo Garcia, especialista em geriatria e pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre, e Enio Casagrande, cardiologista e chefe do Ambulatório de Check-up do Hospital Moinhos de Vento.