Cientistas de Hong Kong afirmaram que o número de casos do vírus de Wuhan pode superar 40 mil e, por este motivo, consideram que os governos devem adotar medidas drásticas para limitar os deslocamentos da população se desejam deter a propagação da epidemia.
Os cientistas da Universidade de Hong Kong (HKU) advertiram para uma aceleração da propagação do coronavírus, que até o momento deixou oficialmente 80 mortos na China, de um total de 2,744 casos confirmados. O número de casos suspeitos dobrou em 24 horas e se aproxima de 6 mil.
Com base em modelos matemáticos da propagação do vírus, a equipe antecipa que o número real de contágios é muito superior ao balanço das autoridades, que considera apenas os casos formalmente identificados.
— O número de casos confirmados que apresentam sintomas deveria ser da ordem de 25 mil ou 26 mil no dia do Ano Novo chinês, sábado passado (25) — afirmou Gabriel Leung, chefe da equipe de cientistas, durante uma entrevista em Hong Kong.
Incluindo as pessoas que estão em período de incubação, e ainda não apresentam sintomas, o "número se aproxima dos 44 mil" no sábado, completou.
Ele explicou que o número de contágios poderia dobrar a cada seis dias, para atingir o pico em abril e maio nas zonas já afetadas por uma epidemia. Leung destacou que medidas eficazes de saúde pública poderiam reduzir o ritmo de contágio.
O epicentro da doença continua sendo Wuhan e a província de Hubei. Mas também foram encontrados casos nas grandes cidades do país, como Pequim, Xangai, Shenzhen ou Cantão.
— Devemos nos preparar para o fato de que esta epidemia em particular se converta em uma epidemia mundial. Devem ser adotadas o mais rápido possível medidas importantes e draconianas para limitar os movimentos da população — completou Leung.
O vírus já foi detectado em uma dezena de países, até a América do Norte, Europa e Austrália, em pessoas que chegaram de Wuhan.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
O vírus é transmitido facilmente?
David Heymann, da OMS, afirmou que a transmissão é mais fácil do que se pensava, informou a rede de televisão norte-americana CNN. Antes, imaginava-se que era apenas por contato entre saliva e mucosa. Agora, as evidências apontam que o vírus passa de forma mais distante, como quando alguém tosse no rosto de outra pessoa. No entanto, ele destacou que não há evidências de que o vírus se espalhe pelo ar, dentro de um cômodo, como é o caso da gripe.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China.
Como surgiu?
A origem possível é um mercado de peixes e frutos do mar. Um estudo apontou que o hospedeiro inicial pode ser morcegos, mas que há possibilidade de existir outro animal como hospedeiro intermediário.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido. Segundo o CDC, pessoas mais velhas e doentes parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Preciso me preocupar com a chegada do vírus ao Brasil?
Segundo o Ministério da Saúde, não há caso suspeito no Brasil. No Rio Grande do Sul, um possível caso foi descartado. Não há transmissão fora da China.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da UFRGS, o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".
* AFP