No próximo dia 26, um evento pretende reunir centenas de pessoas no Parque da Redenção, em Porto Alegre, para discutir o tema saúde mental. Pelo menos 15 profissionais ligados à área organizarão rodas de conversa, distribuirão informativos sobre o assunto e promoverão um momento de relaxamento coletivo. É a maior ação na capital gaúcha relacionada à campanha Janeiro Branco, criada em 2014 pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão e que espalhou pelos Estados brasileiros e outros países.
Iniciada em Porto Alegre em 2016, a ação ganhou força no ano passado ao tornar-se lei municipal e estadual: janeiro virou o mês de estímulo aos cuidados e à conscientização da saúde mental e emocional. Organizadora da campanha na Capital, a psicóloga e escritora Samanta Sittart, integrante do Grupo de Pesquisa Envelhecimento e Saúde Mental, do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), ressalta que uma das propostas é engajar os profissionais da área para que se disponham de forma voluntária a levarem informação de forma gratuita a mais pessoas, seja no próprio consultório ou em eventos abertos.
— O Janeiro Branco vem para dar este empurrão e servir de alerta para todos. Nós, profissionais da área de saúde mental, temos a responsabilidade de levar o tema de forma correta a todos os públicos, colocando-o em evidência. É preciso — destaca.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), relatório global apresentado em 2017 mostrava que a depressão atingia 5% da população que vivia no Brasil (11,5 milhões). Já os distúrbios relacionados à ansiedade afetavam 9,3% da população (18,6 milhões). Para o criador do Janeiro Branco, o objetivo da campanha é tornar o tema saúde mental comum nas rodas de conversa. Abrahão explica que escolheu o primeiro mês do ano porque, simbolicamente, está no meio do caminho entre um ciclo que se fecha e outro que se abre. É o período, geralmente, selecionado pelo indivíduo para iniciar metas. Embaladas por uma perspectiva cultural e simbólica — a virada do ano —, as pessoas encontram-se mais propensas a pensarem na própria vida e nos objetivos a serem alcançados ao longo dos mais de 300 dias que terá pela frente.
— A proposta é trabalhar por uma cultura da saúde mental na humanidade, em todas as relações sociais das quais os indivíduos e instituições fazem parte. A humanidade já criou um calendário com esta espécie de parada para dar uma avaliada nos rumos que a vida está tomando. A cor branca é como uma tela que possibilita intervirmos da maneira que bem entendermos. Assim como o janeiro, dá a ideia de início e reinício, em cima de uma folha em branco qualquer pessoa pode escrever e reescrever sua própria história de vida — explica Abrahão.
Segundo o psicólogo, a maior vitória da campanha até agora é ter criado uma cultura de saúde mental, fazendo o tema se tornar uma pauta na sociedade.
— É uma campanha que fala sobre a essência do ser humano, a subjetividade. O Janeiro Branco pode ser uma plataforma, um trampolim ou uma grande possibilidade de a pessoa ser convidada a pensar melhor sobre si e sobre a subjetividade alheia — finaliza.
O que é o Janeiro Branco
A campanha ocorre por meio de palestras-relâmpago, panfletagens, distribuição de abraços, de fitas e de balões, intervenções artísticas, rodas de conversa, atividades físicas, entrevistas às mídias, esclarecimento de dúvidas sobre sentimentos e de uma série de atividades didáticas, gratuitas e solidárias, promovidas por profissionais da saúde — especialmente psicólogos (as) — e cidadãos sensíveis às necessidades das subjetividades humanas. Eles vão ao encontro da população, em espaços públicos e privados, para dialogarem sobre a importância dos cuidados com a saúde mental.