A Fundação Oswaldo Cruz recebeu nesta quinta-feira (30) fragmentos do material genético do novo coronavírus, que serão utilizados para aprimorar os protocolos de testagens realizados no Brasil. As amostras vieram de Berlim, na Alemanha, e foram trazidas pela Organização Pan Americana de Saúde (Opas), que representa a Organização Mundial da Saúde (OMS) no continente americano.
À frente dos testes realizados na fundação, o pesquisador Fernando Motta explicou que os fragmentos serão usados como "controle positivo", uma forma de comprovar que os exames realizados tinham capacidade de detectar o vírus. Motta é tecnologista em saúde pública do Laboratório de Vírus Respiratórios e de Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz e avalia que a Fiocruz tem condição de atender à demanda por testes nesse primeiro momento. O Brasil não tem casos confirmados de coronavírus e investiga nove casos suspeitos.
Como laboratório de referência, a Fiocruz recebe uma amostra de todos esses casos suspeitos para garantir a qualidade dos testes. A fundação vinha realizando principalmente testes diferenciais, em que descartava o coronavírus a partir da testagem de outras viroses já conhecidas. Com a chegada do material trazido pela Opas, será possível realizar testes específicos para coronavírus, o que deve acelerar o diagnóstico e dar mais precisão ao processo.
Pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, e do Instituto Evandro Chagas, do Pará, também estiveram nesta quinta-feira na Fiocruz para conhecer os protocolos e preparar seus laboratórios para realizarem os testes em suas regiões. Como o treinamento começou nesta quinta, a Fiocruz deve continuar a ser o laboratório de referência para todo o país. A partir do momento em que as amostras chegam na fundação, é possível concluir os testes entre 48 e 72 horas.
Motta explicou ainda que os protocolos adotados estão em constante mudança, porque o vírus infectou humanos apenas recentemente.
— Uma das principais hipóteses é que veio de um hospedeiro animal e acabou de ser introduzido na população humana. Não sabemos, com 100% de certeza, todas as informações. O vírus pode sofrer algum tipo de alteração e esse protocolo pode precisar ser atualizado. Mas há uma rede mundial e esse compartilhamento está sendo feito — explicou.
A Fiocruz também recebeu nesta quinta-feira uma visita técnica do secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, e do secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira. Segundo o chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz, Valclair Rangel, foram apresentados os laboratórios e esclarecidas dúvidas em relação à recepção das amostras e à realização dos exames. "Saímos com um conjunto de acordos", resumiu ele, que contou que o ministério deixou na Fiocruz um representante da Coordenação-Geral de Laboratórios.
Desde a última segunda-feira (27), a Fiocruz criou uma Sala de Situação para monitorar informações sobre o novo coronavírus no Estado do Rio de Janeiro. Participaram da primeira reunião secretarias municipais de saúde e a secretaria estadual, e a próxima reunião deve contar também com representantes de universidades e de conselhos profissionais.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. Conforme o CDC, pessoas mais velhas parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".