Porto Alegre é a capital brasileira com a maior taxa de detecção de HIV em gestantes: são 20,2 casos por mil nascidos vivos. A taxa é sete vezes superior à media brasileira, de 2,9 por mil nascidos vivos, e 2,2 vezes maior do que a taxa do Rio Grande do Sul (9,2 casos por mil nascidos vivos). Os dados fazem parte do Boletim Epidemiológico HIV/Aids, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, divulgado nesta sexta-feira (29).
Apenas nove Estados apresentaram taxa de detecção de HIV em gestantes superior à taxa nacional em 2018. O Rio Grande do Sul está à frente: são 9,2 casos/mil nascidos vivos no Estado, seguido por Santa Catarina (6,1), Roraima (4,6), Rio de Janeiro (4,1), Amazonas (3,5), Pernambuco (3,4), Mato Grosso do Sul (3,2), Amapá (3,1) e Pará (3,0).
O sinal deve ser entendido como um alarme, na avaliação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre. Para Bianca Ledur, enfermeira da equipe de vigilância das doenças transmissíveis da SMS, o Rio Grande do Sul – e Porto Alegre, como a Capital – é marcado por tradições arraigadas que se refletem muito na prevenção e detecção de HIV e aids.
— A questão cultural impacta diretamente nesse cenário. É muito comum que, entre os gaúchos, o homem não use preservativo, e a mulher também não se imponha. Com isso, temos uma menor adesão às campanhas de preservação. E isso se reflete em uma epidemia generalizada da doença — avalia Bianca.
Questionado sobre os motivos que levam não só Porto Alegre, mas o Rio Grande do Sul e toda a região Sul a liderarem os casos de detecção de HIV em gestantes, o epidemiologista Gerson Pereira, diretor do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais no ministério, afirmou que a realização de mais estudos nesses locais também ajuda a explicar a situação.
— Realmente tem um número maior de gestantes (com HIV detectado no Estado), mas isso também se explica porque fizemos um estudo especial. O Rio Grande do Sul tem uma epidemia um pouco diferenciada. Realmente tem um número maior, mas há um número menor de casos de transmissão — afirmou Pereira.
Entre as capitais, apenas sete mostraram, em 2018, taxa de detecção de HIV em gestantes inferior à taxa nacional: Brasília (1,0), Rio Branco (1,5), Goiânia (2,1), Belo Horizonte (2,1), João Pessoa (2,5), Natal (2,5) e Teresina (2,6).
Campanha de Prevenção ao HIV/Aids
Os números foram divulgados junto com o lançamento da Campanha de Prevenção ao HIV/Aids, em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids (1º de dezembro). A ação nacional tem como objetivo incentivar pessoas que não se preveniram em algum momento da vida a procurar uma unidade de saúde e realizar o teste rápido. Com o tratamento adequado, o vírus HIV fica indetectável, ou seja, não pode ser transmitido por relação sexual, e a pessoa não irá desenvolver aids.
— A gente antevê várias lutas contra o preconceito, contra a doença e precisamos trabalhar para que jovens parem de se infectar com o HIV. Precisamos trabalhar mecanismos de mobilização para conscientizar esse público e informar das consequências da doença, da necessidade de fazer o teste e buscar tratamento. É uma luta da ciência pela vida — enfatizou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Em relação aos casos de aids, quando a pessoa desenvolve a doença, o Ministério da Saúde estima que 12,3 mil casos foram evitados no país, no período de 2014 a 2018. O dado foi calculado com base na taxa de casos de aids em 2014, caso ela se mantivesse ao longo desse período até 2018. Nesse mesmo período houve queda de 13,6% na taxa de detecção de casos de aids, sendo 37 mil casos registrados em 2018 e 41,7 mil em 2014.
Em toda a série histórica, a maior concentração de casos de aids também está entre os jovens, em pessoas de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros. Os casos nessa faixa etária correspondem a 52,4% dos casos do sexo masculino e, entre as mulheres, a 48,4% do total.