Apontar os problemas, sugerir soluções e melhorar o diagnóstico e o tratamento do câncer em Porto Alegre são algumas das principais metas do projeto City Cancer Challenge (C/Can), que selecionou a capital gaúcha como a primeira representante brasileira da iniciativa.
Idealizado pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC), o C/Can divulgou, na quinta-feira (5), os resultados da avaliação feita sobre a cidade, onde 13 prioridades foram definidas para trabalho (confira abaixo).
O anúncio foi feito durante o Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, que aconteceu em São Paulo. Com enfoque multissetorial, que envolve sociedades médicas, hospitais, academia, grupo de pacientes, governos locais e sociedade civil, o projeto tem como grande desafio reduzir em 25% a mortalidade por todos os tipos de câncer no município até 2030. Para isso, desde abril grupos de trabalho se reúnem para discutir e debater quais são as necessidades e as prioridades da Capital.
— Através de questionários respondidos por instituições, sociedade, pacientes e grupos de pacientes, identificamos 88 gargalos. O Comitê Executivo elencou as 13 prioridades para trabalhar em Porto Alegre. Nossa intenção é fortalecer o sistema de saúde. Não só o público como o privado — explicou Maira Caleffi, presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e chefe do setor de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento.
— Cada projeto tem uma abordagem diferente. Uns lidam com o acesso que os pacientes têm ao tratamento, outros estão ligados a pesquisas clínicas e uso de linhas de tratamento quimioterápico — completa a enfermeira Tatiana Breyer, coordenadora do plano de atividades do C/Can em Porto Alegre.
Uma cidade-aprendizado
Passada a etapa de identificação dos desafios, o próximo passo, que se estende até dezembro, é delimitar as ações para cada um desses 13 projetos: estipular cronogramas, prazos, o que será feito em qual momento etc. Em janeiro, essas definições começam a ser implantadas na tentativa de modificar o desfecho da doença na Capital.
— Precisamos preparar a cidade para atender o paciente oncológico, que, hoje, está no mesmo patamar das doenças cardiovasculares — afirma Tatiana.
Priorizando os tumores mais frequentes em Porto Alegre — que são de mama, próstata, intestino, pulmão e tumores líquidos nas crianças e nos adultos (leucemias) — o projeto pretende ampliar e melhorar o acesso e tratamento às demais neoplasias.
Além disso, a ideia é que a Capital se torne uma “cidade-aprendizado”, servindo de modelo e replicando o conhecimento para outras partes do Estado e país. Além de Porto Alegre, também fazem parte do C/Can, Kigali (Ruanda), Kumasi (Gana), Yangon (Mianmar), Tbilisi (Georgia), Cali (Colômbia) e Assunção (Paraguai).
Confira as 13 prioridades elencadas pelo projeto
- Melhorar o acesso (antes e depois do diagnóstico) e reduzir o abandono do tratamento
- Ampliar informações e educação do paciente relacionadas à doença e ao tratamento
- Reforçar a capacidade dos bancos de sangue para o fornecimento sustentável de sangue e componentes sanguíneos
- Melhorar a qualidade e rastreabilidade dos laboratórios de patologia
- Melhorar o acesso a diagnóstico por imagem de qualidade
- Garantir acesso a terapias oncológicas essenciais
- Expandir e integrar os cuidados paliativos com a rede de atenção primária e com hospitais secundários
- Aumentar acesso e cobertura a técnicas de diagnóstico e tratamento
- Aumentar a interoperabilidade na rede de cuidados oncológicos da cidade
- Aumentar o acesso à gestão de cuidados de câncer de qualidade (MDT, diretrizes e protocolos de tratamento)
- Melhorar a vigilância do câncer e a utilização de dados na cidade
- Desenvolver capacidades de recursos humanos
- Desenvolver a capacidade da cidade para assegurar financiamento de projetos para cuidados do câncer