Confrontada com uma epidemia de ebola que saiu do controle na República Democrática do Congo, a Organização Mundial da Saúde anunciou, na semana passada, planos para mudar a estratégia de vacinação até então adotada, que inclui oferecer doses menores e, eventualmente, introduzir uma segunda vacina.
O surto, que dura nove meses, já ceifou mais de mil vidas. Grupos rebeldes atacaram centros de saúde ou equipes médicas dezenas de vezes, fazendo com que muitas organizações humanitárias deixassem a região. Segundo uma autoridade da OMS citada pela agência de notícias The Associated Press, 85 profissionais da saúde foram mortos ou feridos desde janeiro.
Como ir até os vilarejos onde estão as vítimas do ebola é muito arriscado, a OMS pretende lançar "campanhas surpresa" de vacinação de curta duração em comunidades consideradas seguras.
Além disso, a agência quer imunizar o maior número possível de pessoas nas áreas-alvo, em vez de manter apenas a tática que vem utilizando atualmente: a "vacinação em anel", em que recebem a imunização pessoas que tiveram contato direto com pessoas sabidamente contaminadas e profissionais da saúde.
Mas, antes que tal mudança aconteça, o governo congolês precisa aceitar as recomendações feitas por especialistas da OMS em um painel recente. O médico Jean-Jacques Muyembe, que preside o comitê de revisão ética do Congo, recebeu bem as orientações e disse que se esforçaria para que elas fossem implementadas o mais rápido possível.
Alguns observadores disseram que os residentes e até mesmo os profissionais de saúde estão rejeitando a vacina. Outros afirmaram que os moradores estavam irritados pelo fato de a vacina só ser ofertada àqueles que tiveram contato com as vítimas, pois todos estavam com medo de ser infectados.
Muyembe também informou que a demanda pela vacina está aumentando nos distritos afetados no leste do Congo. Entretanto, relatos contraditórios estão chegando da região sobre a aceitação da vacina. Alguns observadores disseram que os residentes e até mesmo os profissionais de saúde estão rejeitando a vacina. Outros afirmaram que os moradores estavam irritados pelo fato de a vacina só ser ofertada àqueles que tiveram contato com as vítimas, pois todos estavam com medo de ser infectados.
De acordo com a OMS, mais de 111.000 pessoas foram imunizadas contra o ebola desde o início do surto, em agosto. Para aumentar a oferta da vacina, que é produzida pela Merck e conhecida pela designação rVSV-ZEBOV, a agência aconselhou diminuir as doses.
Funcionaria da seguinte maneira: pessoas com maior risco de contaminação – que tiveram contato direto com infectados e com indivíduos do convívio destes – deveriam receber 0,5 mililitro da vacina, metade da dose usada atualmente. Essa fração foi usada em 2015 durante um teste clínico na República da Guiné e se mostrou eficaz.
Todas as outras pessoas com menor risco de contaminação, mas que queiram ser imunizadas, receberiam 0,2 mililitro, ou um quinto da dose atual, esclareceu a OMS. Elas levariam mais tempo para desenvolver imunidade contra o vírus, mas, pelo menos, teriam proteção parcial.
Mesmo com a dose máxima de 1,0 mililitro, ainda não está claro por quanto tempo a vacina da Merck oferece proteção. Em outubro, a OMS declarou que alguns estudos indicaram que a defesa contra o ebola durava aproximadamente um ano.
Ademais, a agência recomendou introduzir uma segunda vacina, esta produzida pela Johnson & Johnson e, hoje, conhecida pelo código Ad26.ZEBOV/MVA-BN. (As vacinas preliminares são batizadas com as iniciais que descrevem seus ingredientes. A da Merck usa um vírus da estomatite vesicular recombinante para levar a vacina até as células. Já a da Johnson & Johnson usa um adenovírus. Ambos os vírus podem infectar seres humanos, mas, nas vacinas, estão inativos e não podem causar infecções.)
Um consórcio, do qual faz parte a Coalition for Epidemic Preparedness (Coalização para Inovações em Prontidão Epidêmica), que desenvolve vacinas contra doenças pandêmicas, e a London School of Hygiene and Tropical Medicine (Escola de Medicina e Higiene Tropical de Londres), está desenvolvendo uma maneira segura de introduzir a nova vacina.
Por Donald G. McNeil Jr.