Por trás da sigla MMS – originária do inglês, Miracle Mineral Solution –, esconde-se um produto comercializado com a promessa de curar diversas doenças e até o autismo. Contudo, a substância nada mais é do que dióxido de cloro, usado largamente para produção de produtos de limpeza. De olho nas promessas falsas e perigosas à saúde humana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem fiscalizado os anúncios de venda desse produto na internet. Contudo, alguns sites seguem comercializando o produto.
Conforme a Anvisa, o dióxido de cloro não tem aprovação como medicamento em nenhum lugar do mundo, e sua ingestão traz riscos imediatos e a longo prazo, especialmente às crianças. Em algumas publicidades, os vendedores faziam indicações de uso do líquido para tratamento do autismo.
Para ajudar a conter a disseminação de notícias falsas a respeito do autismo e da MMS, um grupo de mães de filhos com autismo se organizou para denunciar vendas irregulares, livros e vídeos com informações falaciosas e também orientar outros pais que já caíram ou ainda podem cair no conto da MMS.
— Comecei uma campanha nas redes sociais porque aumentou muito o número de pessoas que me mandavam mensagens perguntando sobre MMS. Descobri que havia centenas de anúncios no Mercado Livre, sem fiscalização nenhuma, e livros à venda em grandes livrarias do país que orientam o uso de MMS, colocando crianças em risco — diz a jornalista Andrea Werner, mãe de um menino com autismo.
Segundo ela, alguns dos vendedores indicam a aplicação da MMS nas crianças via retal, já que produto tem o cheiro forte de cloro para ser ingerido.
— Mas, como é alvejante, o intestino descama, e os pais são levados a acreditar que os pedaços que se descolam são vermes que causariam o autismo, o que não é verdade. As imagens são de filme de terror.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que o método não tem respaldo científico e que médicos não podem anunciar que fazem uso porque isso pode indicar que a substância é reconhecida pelo conselho. Os médicos podem ser notificados a prestar esclarecimento nos conselhos estaduais, que podem abrir sindicância e avaliar se há infração ética. Denúncias podem ser feitas aos conselhos regionais.
Há anos, o FDA (Food and Drug Administration), órgão norte-americano correspondente à Anvisa, alerta a população para não consumir o produto. Em 2010, emitiu uma nota na qual diz que a substância, quando tomada conforme as indicações dos vendedores, produz um alvejante, usado na indústria e no tratamento de água. O consumo elevado pode provocar náuseas, vômitos, diarreia e sintomas de desidratação severa.
O que é o produto?
O dióxido de cloro é classificado como um produto corrosivo e sua manipulação exige o uso de equipamento de proteção individual. É um produto que também traz riscos pela inalação.
O que é o autismo?
É um transtorno de desenvolvimento que se manifesta, geralmente, antes dos três anos de idade. É comum os pais observarem alterações na criança a partir dos 18 meses, quando ela parece se "desconectar" do universo ao redor. Caracteriza-se por alterações na comunicação, no relacionamento interpessoal (pouca interação) e um repertório de interesses muito restrito, por vezes com a fixação em um único tema.