Crianças brincando com os smartphones e tablets dos pais é uma cena comum em lares e áreas abertas, mas não deveria, segundo um guia inédito lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira (24).
Segundo o estudo, menores de um ano não devem ter contato com telas e maiores de dois anos podem usar no máximo uma hora por dia. O hábito deve ser substituído por leitura e brincadeiras dinâmicas. Além disso, a pesquisa aconselha que as crianças passem cerca da metade do dia dormindo: de 12 e 17 horas, para menores de dois anos, e de 10 a 13 horas, para maiores de dois anos.
Essas recomendações podem parecer puro senso comum para as famílias, mas têm provocado polêmica, com alguns especialistas criticando a agência da ONU por formulá-las com base em testes insuficientes e adotando conceitos simplistas como "tempo de tela sedentário".
A OMS estima, no entanto, que essas instruções "preenchem uma lacuna" no esforço global para promover uma vida saudável, uma vez que esta faixa etária não foi levada em conta nas recomendações fixadas pela OMS em 2010.
Em um momento em que a obesidade representa uma ameaça crescente para a saúde pública e que 80% dos adolescentes "não são suficientemente ativos fisicamente", a OMS considerou necessário divulgar uma lista de bons hábitos para crianças com menos de cinco anos de idade, um período crucial para o desenvolvimento de um estilo de vida.
E, embora reconheça que esses conselhos se baseiam em "evidências de baixa qualidade", a agência de saúde diz que suas recomendações podem ser aplicadas a todas as crianças, independentemente do sexo, do ambiente cultural ou de seu status socioeconômico.
Para os bebês com menos de 12 meses de idade, a OMS recomenda pelo menos 30 minutos de atividade física diária, inclusive na posição ventral para aqueles que ainda não andam. A organização adverte que não é ideal manter os bebês em um carrinho, em uma cadeira alta, ou no colo de alguém, por mais de uma hora sem interrupção.
Para crianças de um a dois anos, a agência aconselha três horas de atividade física por dia, não mais do que uma hora de "tempo de tela sedentário" e pelo menos 11 horas de sono.
Para os pequenos de três a quatro anos, as três horas diárias de atividade física devem incluir pelo menos uma hora de movimentação "moderada a vigorosa". O tempo gasto nas telas não deve exceder uma hora também.
Pesquisa não convenceu a todos
– Eu me pergunto como as instruções de política global de saúde pública, que afetam milhões de famílias, podem ser baseadas em "evidências de baixa qualidade" – criticou Kevin McConway, professor emérito de estatística aplicada na Open University britânica, que ainda questiona o que significaria tempo de tela sedentário.
Em entrevista coletiva, a diretora do Programa para Prevenção de Doenças Não Transmissíveis da OMS, Fiona Bull, declarou que os autores do relatório têm total confiança na correção das recomendações.
– (A OMS quis apenas) ser transparente sobre o fato de que ainda há muito trabalho científico a fazer em áreas importantes – afirmou Fiona.
O diretor de pesquisa do Instituto Internet da Universidade de Oxford, Andrew Przybylski, disse que "as conclusões tiradas sobre as telas estão longe das evidências científicas do dano sofrido". Przybylski pediu à OMS para realizar "estudos de melhor qualidade".
Juana Willumsen, encarregada da área de obesidade e atividade física infantil na OMS, explicou aos jornalistas que essa expressão fazia referência ao "tempo de tela passivo" em contraposição aos "jogos em tablets e programas de TV em que as crianças são incentivadas a se mexer".