Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidad de la Costa, na Colômbia, e da Universidade Federal de Sergipe (UFS) descobriram recentemente o potencial do guaraná para o controle da obesidade. Os resultados, publicados na revista científica Phytotherapy Research, mostraram que, além de evitar o acúmulo de gordura e o ganho de peso, a planta nativa da Amazônia é capaz de diminuir outros problemas relacionados à obesidade, como a resistência à insulina.
O estudo foi realizado durante 18 semanas com quatro grupos de ratos. O primeiro deles recebeu uma dieta normal, de controle, o segundo recebeu a dieta normal mais o guaraná, o terceiro passou a receber uma dieta indutora de obesidade e, por fim, o quatro grupo recebeu a dieta indutora de obesidade mais o guaraná.
Após a realização dos testes, os pesquisadores observaram que a suplementação impediu o aumento de peso e diminuiu o acúmulo excessivo de gordura entre os animais que foram alimentados com a dieta para ganhar peso. Também perceberam que o guaraná evitou outras condições vinculadas à obesidade, como a resistência à insulina e a desregulação de adipocinas – substâncias secretadas pelo tecido adiposo, diretamente relacionadas à distribuição da gordura corporal, cujo desequilíbrio está associado à obesidade e a síndromes metabólicas, entre outras enfermidades.
Depois que a eficácia do guaraná para o tratamento e a prevenção da obesidade foi constatada, os pesquisadores responsáveis pelo estudo passaram a investigar quais poderiam ser os eventuais efeitos colaterais de seu uso.
— Muitos estudos que avaliam potenciais terapêuticos esquecem de avaliar o potencial tóxico dos compostos ou extratos. Nós avaliamos o potencial tóxico e não identificamos nenhuma toxicidade do guaraná na concentração utilizada por nós, tanto no grupo controle quanto no grupo da dieta obesogênica. Porém, é bem possível que, em altas doses, ele exerça alguma toxicidade, inclusive porque tem cafeína. Assim como o café pode ser tóxico em altas doses, o guaraná também — afirma Rafael Bortolin, coautor do estudo e professor da Universidad de la Costa e colaborador do Centro de Estudos em Estresse Oxidativo da UFRGS.
O efeito do guaraná no corpo
Por fim, a pesquisa buscou descobrir quais são os mecanismos pelos quais o guaraná atua para evitar o aumento de peso. Depois de constatarem que não houve redução na quantidade de comida ingerida, nem mesmo alteração na microbiota intestinal dos animais que consumiram o suplemento, os pesquisadores começaram a analisar as mudanças no tecido adiposo marrom, um dois tipos que está presente no corpo humano – o outro é o branco.
Enquanto o tecido adiposo marrom é voltado à manutenção da temperatura corporal e se configura como o principal local de termogênese – processo metabólico que envolve o gasto de energia para a produção de calor – nos mamíferos, o branco tem como função primária o armazenamento de energia. Quanto mais tecido adiposo marrom, portanto, maior será o gasto de energia, que, consequentemente, resultará na perda de peso.
— Nós propomos que a ativação do tecido adiposo marrom é um dos mecanismos de ação envolvidos na perda de peso induzida pela suplementação de guaraná. Em resumo, o guaraná é um potencial agente terapêutico atraente para tratar a obesidade — explica Bortolin.
Portanto, constatou-se com os experimentos que o guaraná induziu a expansão do tecido adiposo marrom, assim como aumentou o número de mitocôndrias contidas nele e a ativação de proteínas envolvidas no processo de termogênese. Entretanto, como este ainda é um estudo inicial, será necessário que os testes sejam feitos em humanos obesos para confirmar os resultados do estudo.