Depois de mais de dois anos em queda, a dengue voltou a avançar no país. Dados de novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde apontam 54.777 casos prováveis da doença até o dia 2 de fevereiro, 149% a mais do que no mesmo período de 2018. Naquela época, foram registrados 21.992 casos.
O avanço ocorre em quase todas as regiões do país, com exceção apenas do Centro-Oeste. Com 32 mil casos, o Sudeste responde por 60% das notificações. No Rio Grande do Sul, o aumento foi de 146,2%, passando de 26 casos para 64.
Ao todo, 15 estados tiveram crescimento nos casos de dengue em comparação ao ano passado. Lideram a lista de registros São Paulo, que já soma 17 mil casos, e Minas Gerais, com 12 mil.
Também já foram registradas cinco mortes pela doença. Destas, duas ocorreram em Goiás. As demais ocorreram em São Paulo, Tocantins e Distrito Federal.
No Rio Grande do Sul, o número de municípios gaúchos considerados infestados pelo mosquito aumentou: passou de 62, em 2010, para 320 em 2019 — o que atinge 9,7 milhões de pessoas, 86% da população gaúcha.
A situação tem levado autoridades de saúde a aumentar o alerta sobre o combate de focos do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. O verão é considerado o período mais favorável à reprodução do mosquito.
Os primeiros sinais do avanço da dengue, no entanto, já haviam sido registrados no ano passado, quando levantamentos apontaram alta infestação de Aedes aegypti em 1 a cada 4 municípios do país.
Com isso, o ano de 2018 também fechou com crescimento de 11% no total de casos da doença. O panorama interrompeu uma sequência de queda nos registros, a qual vinha sendo registrada desde 2016.
Até então, a redução era atribuída ao maior controle do mosquito vetor em meio à emergência devido aos casos de zika e microcefalia, situação decretada em 2015, e ao próprio ciclo epidemiológico da dengue, que prevê redução de casos após período de forte epidemia -devido à redução do número de pessoas suscetíveis ao vírus em circulação.
Agora, o aumento na circulação de outro tipo de vírus da dengue acaba por mudar esse cenário. Neste ano, segundo o ministério e secretarias estaduais de Saúde, a maioria dos casos está ligado ao avanço do vírus da dengue tipo 2. Desde 2014, os sorotipos mais prevalentes eram o 1 e o 3.
Segundo o infectologista Marcos Boulos, da coordenadoria de doenças da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, a evolução de uma nova infecção é mais grave em pessoas que já contraíram outros sorotipos da doença.
— Quando tem várias infecções sequenciais em intervalo de seis meses a três anos, a tendência é de evolução para maior gravidade. Nosso problema é não só o número de casos estar mais alto que o ano passado, mas a gravidade dos casos. Isso pode aumentar bastante o número de mortes em São Paulo por dengue — afirma.
Zika e chikungunya
Na contramão dos casos de dengue, os registros de outras duas doenças transmitidas pelo Aedes têm tido queda no país.
Neste ano, os casos de zika somam 630, redução de 19% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a chikungunya soma 4.149 registros, queda de 51%. Alguns Estados, no entanto, apresentam cenário oposto, caso do Rio de Janeiro, com 2.198 casos até 2 de fevereiro deste ano, contra 1.182 no mesmo período do ano passado.
Prevenção
Com hábitos diurnos, o mosquito Aedes aegypti tem, em média, menos de um centímetro de tamanho, é escuro e com riscos brancos nas patas, cabeça e corpo. Para se reproduzir, ele precisa de locais com água parada, onde deposita os ovos. A Secretaria Estadual de Saúde faz recomendações para evitar a reprodução do mosquito:
- Tampar caixas d'água, tonéis e latões.
- Guardar garrafas vazias viradas para baixo.
- Guardar pneus sob abrigos.
- Não acumular água nos pratos de vasos de plantas e enchê-los com areia.
- Manter desentupidos ralos, canos, calhas, toldos e marquises.
- Manter lixeiras fechadas.
- Manter piscinas tratadas o ano inteiro.