O anúncio feito pelo governo de Cuba nesta quarta-feira (14), que decidiu sair do programa social Mais Médicos, tem causado preocupação nos prefeitos de cidades da Serra. O programa enviava médicos ao Brasil para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2013. Caxias do Sul vai perder sete médicos a partir do encerramento do programa.
Já em Farroupilha, que possui mais de 70 mil habitantes, são quatro médicos cubanos que prestam atendimento entre os cerca de 30 que fazem parte da rede de saúde em todo o município. O prefeito Claiton Gonçalves (PDT), que também é médico, lamenta a perda dos profissionais. Embora ele aponte que será possível remanejar de forma imediata o contingente a partir dos servidores disponíveis em Farroupilha, ele destaca que os médicos cubanos possuem uma visão mais humana sobre os pacientes em comparação com os médicos brasileiros.
— Vejo com preocupação essa retirada abrupta (dos médicos cubanos), porque os médicos brasileiros são extremamente técnicos, enquanto os estrangeiros analisam melhor os pacientes e sabem ouvir – salienta.
Outro fator que provoca preocupação no prefeito de Farroupilha é o investimento do município para contratar os novos profissionais. Com os médicos cubanos, cada cidade investia apenas recursos para moradia e auxílio alimentação – tendo em vista que eles recebiam uma bolsa do Ministério da Saúde – agora, com a contratação dos profissionais pelas próprias prefeituras, será necessário pagar o valor integral do salário dos médicos.
Em Flores da Cunha - que conta atualmente com quase 30 mil habitantes - dos 16 profissionais que atuam na rede de saúde em todo o município, dois são cubanos. Mesmo que o efetivo seja pequeno em comparação ao total disponível na rede de saúde, a perda dos médicos vai provocar transtornos no atendimento.
Segundo o prefeito Lídio Scortegagna (MDB), o processo de chamada daqueles aprovados em concurso é complicado por conta do fato de muitos profissionais não estarem dispostos a preencher a função que era ocupada por meio do Mais Médicos. A alternativa, de acordo com o prefeito, é chamar pessoas através de contratos emergenciais, que vão custar mais aos cofres do município.
— Temos cerca de dez médicos que foram aprovados em concurso público que estamos com dificuldade de chamar porque eles não querem assumir, ou porque estão fazendo residência ou atendem em outros lugares particulares. Esses médicos prestaram um atendimento excelente, esperamos que aconteça uma reversão dessa decisão – aponta.
Em Veranópolis, cidade que conta com cerca de 22 mil habitantes, o impacto no atendimento será semelhante. Dos 13 profissionais que trabalham na unidade central e nos postos de saúde, dois são cubanos. Conforme o prefeito Waldemar de Carli (MDB), o município vai precisar realizar um remanejamento do efetivo, tendo em vista que esses médicos atendem na rede básica.
De Carli também é presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste do Estado (Amesne) e aponta que a situação será mais crítica nos municípios menores. Apesar de ainda não ter discutido com os demais gestores das cidades que fazem parte da Associação, ele avalia que serão os que mais vão sofrer os efeitos da extinção do programa Mais Médicos no Brasil.
É o caso de São Francisco de Paula, que conta com cerca de 20 mil habitantes. Dos oito médicos que atendem em todo o município, três são cubanos. A notícia da saída dos médicos foi recebida com perplexidade pelo prefeito Marcos Aguzzoli (PP). Segundo ele, o atendimento prestado era bastante eficaz e elogiado pela população.
— Para nós, não é uma notícia boa, os médicos fazem um trabalho muito bom. Esses médicos vão fazer muita falta, principalmente porque ninguém quer ir para o interior, imagine para os municípios no extremo interior do Estado. Torcemos para que seja encaminhada uma solução a curto prazo pelo governo federal - destaca Aguzzoli.