Quase uma extensão do próprio corpo, os aparelhos celulares executam muito mais do que a simples função de comunicar: servem para entreter, mapear, pedir transporte ou buscar qualquer tipo de informação na internet. Apesar dessas tecnologias facilitarem a vida, o abuso delas tem chamado atenção para o surgimento de alguns problemas de saúde, especialmente relacionados a dores nos membros superiores, como relata a fisioterapeuta Liliane Martini Araújo, especialista na reeducação da postura e do movimento:
— Hoje, não há evidência científica que correlacione o uso de smartphones com queixas de dor na coluna. Alguns estudos apresentam baixa evidência de associação com as dores de tensão muscular de mãos, antebraços e ombros. Mas, na prática clínica, posso afirmar que o problema mais comum relacionado ao uso dos telefones é a tensão muscular nas palmas das mãos, nos antebraços e na região da nuca.
Nos últimos anos, além do número de linhas de telefonia móvel ter superado os 235 milhões no Brasil — conforme dados Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgados em julho deste ano — cresceram também os relatos de dores articulares, possivelmente agravadas pelo uso abusivo dessas tecnologias. Quem também observou esse aumento foi o médico ortopedista e traumatologista Fernando Augusto Dannebrock, especialista em cirurgia da coluna, principalmente nos pacientes entre 20 e 40 anos:
— Geralmente, são dores que surgem após movimentos repetitivos de eletroeletrônicos e que podem gerar processos inflamatórios crônicos.
Tendinites, epicondilite (processo inflamatório na região dos cotovelos) e até mesmo tendinites específicas — como no polegar — são os problemas mais recorrentes em quem usa demais os smartphones, afirma o médico. Esse último quadro, inclusive, foi descrito em 2014 por uma médica espanhola que diagnosticou sua paciente com "WhatsAppinite" depois que a jovem passou seis horas ininterruptas trocando mensagens no aplicativo. Fora a indicação de drogas anti-inflamatórias, a espanhola recebeu a orientação de fazer "abstinência" do app de troca de mensagens.
Sem tanto radicalismo, os especialistas ouvidos pela reportagem indicam que a utilização dos aparelhos seja equilibrada.
— Fazer uso de forma mais consciente colabora muito. Se não houver como fugir deles, o ideal é, de tempos em tempos, mudar a postura trazendo a tela para a altura dos olhos — sugere Liliane.
Dannebrock complementa:
— O melhor é evitar baixar muito a cabeça e não deixar aparelho tão próximo ao rosto. O uso na cama também não é indicado porque estimula uma postura inadequada.
Abaixo, veja as dicas de Liliane para evitar dores e cuidar da postura:
Quando estiver de pé
- Leve a tela na altura dos olhos, mantendo os cotovelos mais abertos.
- Na hora que o braço cansar, significa que a força acabou para aquela posição. Se continuar com o uso, já haverá sobrecarga. Então, dê um tempo do aparelho.
Quando estiver sentado
- O melhor é apoiar os braços em uma almofada ou nos apoios das cadeiras.
- A tela também deve ser levada à altura dos olhos. Mais uma vez, se cansar, é melhor fazer uma pausa.
Sentiu dor?
- Utilize bolsa de calor na cervical quando deitar.
- Isso não só trata como previne tensões musculares desta região.