Em meio ao processo de resgate dos 12 meninos e do técnico de futebol presos em uma caverna da Tailândia, surgem dúvidas acerca de quanto tempo o corpo humano é capaz de resistir em situações de privação de alimento e água. De acordo com o geriatra Emílio Moriguchi, um complexo de elementos interferem no processo, entre eles o oxigênio presente no local, necessário para o funcionamento das células, a condição física da pessoa e até mesmo a motivação para enfrentar a adversidade.
Primordial para a vida, o oxigênio precisa compor, no mínimo, 21% do ar presente em determinado ambiente. Caso contrário, concentrações inferiores podem causar efeitos tais quais náuseas e tonturas. Valores abaixo de 10% podem causar complicações e levar à morte.
Responsável por manter as funções vitais do corpo, o cérebro precisa de glicose para trabalhar. Em um cenário em que não há a possibilidade de consegui-la via alimentos — ou, como no caso dos meninos tailandeses, quando a oferta de comida é insuficiente —, a alternativa encontrada pelo organismo é buscar em sua própria estrutura. Assim, o papel do fígado ganha destaque, visto que ele é a principal fonte de produção e distribuição de energia. Além de poder estocar glicose, é capaz de retirar energia das gorduras presentes nos músculos e também quebrar as proteínas, transformando-as em combustível para o cérebro.
Nessa dinâmica em que o corpo vai se autoconsumindo para sobreviver há perda de peso e de massa muscular, fraqueza, anemia, propensão à baixa da imunidade e possibilidade de transtornos emocionais. Por isso, ressalta Moriguchi, a companhia e a motivação envolvida no enfrentamento desse tipo de situação são fundamentais.
— (A motivação) Talvez seja o mais importante, pois a pessoa pode desistir antes. Se a cabeça desistir antes, o corpo não vai — afirma o médico.
A prática da meditação é comum neste país budista, o que também pode ter ajudado as crianças a não entrarem em pânico durante os dias de espera.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o ambiente em que se está inserido. Locais muito frios, por exemplo, podem provocar a necessidade de maior gasto energético para a manutenção da temperatura corporal. Em vídeo divulgado pela marinha tailandesa, por exemplo, é possível verificar que os meninos se cobriam com proteções de alumínio visando se proteger das condições climáticas da caverna.
O tempo que cada organismo pode aguentar também dependerá das condições físicas de cada pessoa. Quanto mais jovem, maior é a possibilidade de estoque de energia do organismo, visto que o metabolismo humano diminui conforme o passar dos anos.
A estimativa é que pessoas saudáveis sobrevivam até sete dias sem beber água. Em casos de interrupção apenas no consumo de alimentos, o especialista indica que é possível ficar até mais de um mês sem a ingestão de sólidos, variando conforme a reserva energética do indivíduo.
Readaptação
Após um período de dieta inadequada, com consumo insuficiente de nutrientes, o médico aponta a necessidade de aumento gradual na ingestão, que deve ser, na fase inicial, predominantemente de alimentos leves e sem gordura. Caso contrário, devido à adaptação do corpo a poucas calorias, pode haver reações adversas como diarreia. O tempo de ajuste à nova realidade varia conforme a resposta de cada organismo.
Imersos em um ambiente de pouca luminosidade, os meninos tailandeses não terão dificuldades na readaptação à luz natural ou artificial cotidiana, segundo Moriguchi. Tal processo transcorre de modo tranquilo, sem a necessidade de uso de proteções externas como óculos.