Depois de infectologistas de Santa Maria terem se insurgido contra a forma como as autoridades estão lidando com o surto de toxoplasmose que assola a cidade desde o mês de março, GaúchaZH ouviu também um dos maiores especialistas em toxoplasmose do mundo, o oftalmologista Cláudio Silveira, que comanda o Centro de Referência em Toxoplasmose, em Erechim. Ele confirma que, ao que tudo indica, o surto de Santa Maria será confirmado como o maior do mundo. Nos últimos dias, Silveira tem contatado especialistas no Brasil e no Exterior. Ele diz que há um consenso de que a fonte da contaminação deve ser a água fornecida na cidade:
— Esse caso de Santa Maria é tão importante que estou conversando com outros epidemiologistas. Todo mundo diz a mesma coisa: é muito difícil que não seja a água. Na história dos grandes surtos, no mundo, com raras exceções, sempre foi a água. Que seja outra coisa, é possibilidade mais remota, mas seria algo inédito. Em Santa Maria, são muitos bairros atingidos. Seria importante ver um mapa da rede de distribuição que atende esses bairros, para tentar localizar a origem, ver se tem alguma caixa d'água que vai para todos esses bairros. Essa é a ideia que me foi passada pelo doutor Esper Kallas, da USP. É importante encontrar a origem, porque tem de saber onde está pegando fogo para apagar o fogo.
Silveira explica que a contaminação de mananciais e caixas de água ocorre por meio da fezes de felinos e outros felídeos. Por isso, costumam ser situações pontuais. Depois de consumida a água contaminada, o surto acaba. O que chama atenção no caso de Santa Maria é que o problema tem se prolongado — o que poderia indicar uma situação de contaminação repetida da água.
— Se os casos continuam acima do normal em Santa Maria, estamos diante de uma coisa mais complicada. Se isso está acontecendo, nunca houve no mundo. Esse caso de Santa Maria está misterioso, estranho — comenta.