Profissionais de saúde de Santa Maria querem que sejam realizados na própria cidade os exames de contraprova dos casos de toxoplasmose identificados na cidade, para acelerar as confirmações. O Hospital Universitário (HUSM) propôs assumir a tarefa. No momento, todas as amostras têm de ser encaminhadas a Porto Alegre e submetidas a análise do Laboratório Central do Estado (Lacen), para só então os dados aparecerem nos boletins oficiais da Vigilância em Saúde.
Por causa desse processo, os profissionais santa-marienses trabalham com 158 pacientes com testes positivos realizados em laboratórios locais, enquanto o Lacen só conseguiu confirmar, até o momento, 51 doentes. Na noite de terça-feira (24), infectologistas de Santa Maria chamaram uma coletiva de imprensa para dimensionar a epidemia e pedir a agilização das contraprovas, que consideram morosas.
Um dos participantes foi o infectologista e epidemiologista Fábio Lopes Pedro, que trabalha no HUSM, para quem uma maior agilidade nas contraprovas significaria alertar de forma mais adequada a população e obter os recursos necessários para enfrentar o surto.
— A contraprova é uma exigência para a notificação dos dados. E tudo se move com base nesses números. Não há repasses do Ministério da Saúde, por exemplo, se não mostramos que existe a epidemia. Por isso, o Hospital Universitário se colocou à disposição. Ele tem os mesmos equipamentos, tecnologias e condições técnicas que o Lacen e poderia fazer os exames com mais rapidez, em 24 horas — afirma.
Os médicos de Santa Maria registraram até o momento 250 pessoas com sintomas, dos quais 51 são gestantes, o grupo que preocupa mais, por causa do risco de sequelas para o feto. Acompanham como doentes 199 pessoas, dos quais 148 tiveram testagem positiva para toxoplasmose e 51 aguardam resultado dos exames – de laboratórios locais. Para termos de tratamento, explica Fábio Lopes Pedro, não há necessidade de qualquer outra confirmação.
A contraprova é realizada para fins de estatística epidemiológica. A partir da notificação dos casos pelos serviços médicos, novas amostras são coletadas pela autoridades e enviadas ao Lacen – que tem divulgados duas atualizações semanais, às terças e às sextas-feiras. É por isso que existe uma defasagem entre os dados oficiais e os dados com os quais os médicos de Santa Maria trabalham. Até o momento, o laboratório estadual recebeu somente 90 amostras, das quais já saíram os resultados de 60. Trinta estão pendentes.
— As pessoas veem esses números e podem imaginar que os médicos estão inventando, exagerando, mas a verdade é que não paramos de atender gente doente — diz Fábio Lopes Pedro.
Em relação ao trabalho da prefeitura, o infectologista considera que a condução do caso tem sido exemplar, "sem uma vírgula a reparar". Nesta tarde, GaúchaZH conversou com a secretária municipal de Saúde, Liliane Mello Duarte, a respeito da proposta de realizar as contraprovas no HUSM.
— Estamos aguardando a chegada de um representante do Lacen, que deve ocorrer nesta quinta-feira (26), para definir o que será feito — afirmou.
GaúchaZH também questionou a Secretaria Estadual da Saúde sobre as críticas a respeito da demora no Lacen e sobre a possibilidade de o HUSM fazer as contraprovas. Foi enviada uma resposta por e-mail: "Para a confirmação oficial dos casos, a referência para a análise é o Laboratório Central do Estado (Lacen-RS). O local tem expertise nesse tipo de exame, onde as amostras passam por dois tipos de diagnósticos de anticorpos e, somente com a positividade de ambos, se considera o caso como confirmado. Isso segue o que é recomendado na literatura epidemiológica e dá maior certeza quanto aos números. Em paralelo, a SES trabalha em formas de qualificar e agilizar o processo de notificação, tratando do tema com o Hospital Universitário de Santa Maria, que hoje opera com a identificação de um único anticorpo. Isso impossibilita, neste momento, a conjugação das duas frentes de trabalho. Por critérios epidemiológicos, só é possível agregar um novo serviço laboratorial como fonte oficial quando ele segue o mesmo processo de análises clínicas do Lacen".
A secretaria não respondeu quanto tempo os exames levam para ser realizados no Lacen.