O quanto as jovens e as adolescentes brasileiras sabem sobre proteção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez não planejada? Essa foi a pergunta de partida de um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o laboratório Bayer, que ouviu 1,5 mil mulheres entre 16 e 25 anos em cinco capitais de quatro regiões do país. A ideia foi analisar a educação sexual que essas meninas recebem tanto nas escolas quanto em casa.
O levantamento nacional apontou que 67% das entrevistadas disseram ter acesso à educação sexual na escola. Contra a maré das outras quatro capitais, Porto Alegre teve outro cenário: mais da metade das jovens afirmou não ter acesso a esse tipo de informação nas instituições de ensino. Foram 62% contra 38% que disseram ter essas informações via escola.
— Lá na Suécia, na Finlândia e na Noruega, isso é uma disciplina da escola fundamental. No Brasil, tem questões religiosas, e os pais, que reclamam que isso pode estimular a atividade sexual precoce — avalia Afonso Nazário, coordenador da pós-graduação do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e um dos autores do levantamento.
No ponto de vista da professora titular da Faculdade de Educação da UFRGS Jane Felipe, integrante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero (Geerge), há uma série de causas para essa realidade. Uma delas é a formação dos professores, que não engloba esses temas:
— Está previsto que a educação sexual seja discutida de forma transversal, ou seja, dentro de todas as disciplinas, não somente em uma. Em geral, isso fica a cargo dos professores de biologia, no entanto, só é abordado sob o viés biológico, quando, na verdade, é preciso considerar questões históricas, sociais e culturais em relação ao corpo e à sexualidade.
Ela também critica a falta de investimento dos governos na formação continuada dos docentes e destaca a discussão da Escola Sem Partido como propulsor dessa realidade:
— Houve a retirada de alguns termos, como sexualidade, e assim, pode-se perceber que está ocorrendo uma onda de conservadorismo muito grande na sociedade brasileira. Isso acaba afetando a possibilidade de os municípios oferecerem formação continuada aos professores sobre essas temáticas.
Cuidado com fontes não confiáveis
Outro ponto destacado pelo médico chama a atenção: a maioria contundente das entrevistadas alegou ter conhecimento sobre prevenção de gravidez e DSTs – em Porto Alegre, 97% afirmaram saber se proteger. No entanto, Nazário alerta para a origem de tais informações.
— A fonte da informação talvez não seja confiável. O ideal é ter esses conhecimentos passados por um ginecologista. Mas elas pegam na internet, com as amigas – observa, acrescentando que, mesmo que os pais tenham um diálogo aberto, a instrução técnica deve ser feita por um ginecologista.
Tanto para reduzir o índice de gestações na adolescência – problema que desafia a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que recentemente emitiu uma recomendação para reduzir esses números na América Latina e no Caribe – quanto para frear as DSTs, o especialista recomenda que os pais levem suas filhas ao médico logo após a primeira menstruação:
— Não é para fazer exames, mas uma consulta de orientação.
Maioria dos garotos não toma medidas preventivas
Pesquisa anterior do laboratório e da Unifesp, feita em 2017, avaliou o conhecimento dos homens sobre contracepção e DSTs. Foram ouvidos 2 mil jovens entre 15 e 25 anos em 10 capitais. Em Porto Alegre, 48% dos entrevistados afirmaram que a maior preocupação que têm em relação ao sexo são as DSTs. Quando o assunto foi sexo em geral e métodos contraceptivos, 27% disseram ter aprendido com os pais e 26% pela internet. Apenas 14% relataram ter recebido informações sobre sexo na escola. Amigos, pais e internet também foram a principal fonte de informação desses jovens: 44%, 26% e 20%, respectivamente.
No âmbito nacional, os pesquisados afirmaram que, embora 72% deles acreditem que a responsabilidade de evitar uma gravidez não planejada seja do casal, a maioria não toma as medidas preventivas necessárias para impedir uma gravidez ou DSTs.