Você talvez já tenha enfrentado este problema ou conhece ao menos uma pessoa em Porto Alegre que o vivenciou: uma insistente tosse seca, prolongada por dias a fio. Ela não deixa você em paz e pode estar acompanhada de congestão nasal, pigarro, dor de cabeça e coceira na garganta e nos olhos. Mas fique tranquilo, o quadro é comum. Segundo especialistas, a irritação costuma ocorrer a cada início de verão e é causada por dois fatores: mudança brusca de temperatura e falta de limpeza em aparelhos de ar-condicionado.
Pneumologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Maurício Leite lembra que poeira, ácaros, bactérias e fungos acumulam-se ao longo do ano nos dutos e no filtro do ar-condicionado de sistemas de refrigeração centrais de grandes prédios e em pequenos aparelhos de residências e carros. Jogados no ar, eles são aspirados e irritam o organismo. O médico menciona a síndrome do edifício doente, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "um conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados".
— Ligados sem manutenção, os aparelhos jogam essas impurezas no ambiente. Isso é ainda pior para quem tem rinite, asma ou bronquite — afirma, ressaltando que reações como tosse, pigarro e nariz congestionado são formas do organismo de livrar-se desses agentes intrusos.
José Miguel Chatkin, chefe do serviço de pneumologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), relata um aumento no número de pacientes com tosse seca persistente desde a segunda quinzena de dezembro, mas que isso "costuma ocorrer em todo início de verão". Ele cita o perigo de o ar-condicionado sujo conter pequenas poças d'água com a Legionella, uma bactéria que pode causar pneumonia.
À parte da presença de microrganismos prejudiciais ao corpo, Chatkin ressalta que o ar-condicionado também retira a umidade do ar. Na prática, o ar seco inalado também resseca o muco transportado pelo aparelho mucociliar, um mecanismo de defesa do sistema respiratório que funciona como uma esteira ao levar impurezas do pulmão para serem expelidas por nariz (na forma de muco) e boca (catarro).
— Com isso, há um acúmulo de partículas de poeira em todo o sistema respiratório, o que irrita ainda mais o sistema respiratório — explica.
A solução, além de limpar o filtro do ar-condicionado, é investir em formas de deixar o ambiente úmido – vale usar um umidificador ou uma toalha molhada no quarto na hora de dormir. Antialérgicos e descongestionantes nasais até podem ser uma opção em crises agudas, desde que o uso seja receitado pelo médico, uma vez que tais medicamentos podem "viciar" o sistema respiratório. O melhor é optar por descongestionantes com soro fisiológico, que não causam dependência.
A mudança brusca de temperatura, outro fator que pode causar a tosse seca, irrita o aparelho respiratório, que necessita de um tempo para adaptar-se a novas condições do ambiente – isto é, o ar frio do shopping ou da empresa.
— A grande amplitude térmica também irrita o sistema respiratório e favorece quadros de asma, bronquite e sinusite. O ideal é manter a temperatura estável, deixar o ar-condicionado nos 24ºC. Senão, os brônquios fecham, a garganta inflama e a via aérea nasal superior produz secreção, algumas defesas do corpo — diz Adalberto Sperb Rubin, chefe do serviço de pneumologia da Santa Casa de Porto Alegre.
A solução para essa causa é fácil: leve para o trabalho sempre um casaquinho ou echarpe e evite ficar com os braços inteiramente descobertos, sobretudo debaixo de uma saída de ar frio do ar-condicionado. Por fim, cuide da limpeza de móveis e acessórios em casa.
— Há estruturas que acumulam pó ou mofo, como tapetes e cortinas. Isso precisa ser limpo. E vale também prestar atenção para inspirar pelo nariz, não pela boca, porque o nariz funciona como filtro e aquece o ar que entra para o corpo — diz a chefe da pneumologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Marli Knorst.