Quando nasceu, em 28 de março de 2017, Rafaella cabia nas palmas das mãos ou "numa caixinha de sapato, com espaço sobrando ainda", conta a mãe, a operadora de telemarketing Greice Kelly Amaral, de 30 anos.
Durante a gravidez, a paulistana foi diagnosticada com uma doença rara que enfraquece os músculos, a dermatomiosite. Descobriu ainda que o problema de saúde prejudicava o andamento da gestação: uma das crianças - a gravidez era de gêmeos - tinha baixo peso e redução do fluxo sanguíneo na placenta. O outro bebê, Hulisses, se desenvolvia normalmente.
Ao completar cinco meses de gravidez, já internada por causa da doença e das complicações, Greice foi informada pela equipe médica que teria de fazer uma escolha difícil.
— Ou eu prosseguia a gestação para dar maiores chances ao Hulisses, mas com grande risco de a Rafaella morrer na minha barriga, ou eu tirava os dois e entregava na mão de Deus — conta a mãe. — Não pensei duas vezes. Nem liguei para o meu marido para perguntar. Decidi fazer a cesárea dos dois porque eu não ia desistir da minha filha.
O parto foi feito. Hulisses nasceu com 720 gramas, peso esperado para a idade gestacional. Rafaella, porém, veio ao mundo com apenas 340 gramas, condição dramática, segundo os médicos.
— É rara a sobrevida de bebês com menos de 400 gramas. A taxa de sobrevivência não passa de 5% — diz Graziela Del Ben, médica chefe da UTI neonatal do Hospital São Luiz, onde a bebê nasceu.
Tensão
A mãe relembra a tensão dos primeiros dias.
— Os médicos falaram que as 48 horas iniciais eram cruciais porque é nesse período que muitos prematuros não resistem. Ela sobreviveu e no primeiro mês teve duas paradas cardíacas. Era tão frágil que fraturou os dois braços e uma perna ao se movimentar muito na incubadora. A gente ia para casa com medo de ela não estar viva no dia seguinte.
Ao longo dos meses, porém, Rafaella foi mostrando que poderia ser uma exceção às estatísticas. Passadas as semanas iniciais, foi ganhando peso e deixando a família mais esperançosa.
— O aspecto mais crítico era o respiratório. O pulmão era muito imaturo. Aos três meses, ela saiu da intubação. Aos poucos, foi evoluindo — conta a médica. — Nosso desafio era monitorar essa parte respiratória, fazer de tudo para ela não perder calor e trabalhar com manipulação mínima da criança — conta.
O contato físico com o bebê tinha de ser tão criterioso que a mãe só pôde segurá-la nos braços quando ela tinha seis meses. Na quarta-feira passada, a história que tinha tudo para ser triste ganhou o seu primeiro final feliz. Prestes a completar 10 meses, Rafaella teve alta e se tornou a menor bebê nascida no Brasil a sobreviver, segundo a equipe médica do Hospital São Luiz. O irmão já havia ido para casa bem antes: aos 6 meses de vida.
A bebê foi liberada pelos médicos após alcançar surpreendentes 6,6 quilos e melhorar a capacidade pulmonar.
— Ela ainda está com um suporte de oxigênio e uma sonda de alimentação, mas não são coisas permanentes — conta a mãe. — A primeira vez que minha filha me viu chorar foi quando ela teve alta. Mesmo com todas as dificuldades, eu não chorava na frente dela porque achava que não ia fazer bem, que eu precisava demonstrar força. Fico feliz que as primeiras lágrimas que ela viu no meu rosto tenham sido de felicidade.