Ao ouvir seu nome, Léia levantou da cadeira onde aguardava, deu alguns passos e encarou o sino. Suspirou e sorriu. Era o indício de que venceu o que, segundo ela, tirava-lhe a liberdade. Em julho deste ano, durante a aula do 1º ano de magistério, em uma escola de Três Cachoeiras, ela começou a sentir dores muito fortes. Em agosto, chegou ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) para o tratamento. Aos 16 anos, Léia Bock Magnus havia sido diagnosticada com linfoma.
— Quando tu chega aqui, tu acha que não vai acabar nunca. Tu não consegue ver o fim do processo, parece que vai durar para sempre. Eu fiz quatro sessões de quimioterapia em cinco dias. Mas isso acaba. É um alívio — conta a jovem.
Durante o procedimento, Léia voltava para casa uma vez por mês, mais ou menos. Mas optava por ficar de repouso, sem rever os conterrâneos. Agora, quer retomar o estudo e o convívio com amigos, colegas e professores.
— Na minha cidade, ninguém nunca tinha tido câncer. Não alguém novo como eu, só pessoas mais velhas que tinham problemas. Foi algo que todo mundo sentiu. O pessoal da minha escola fez um vídeo pra mim. Meus professores disseram que, se for preciso, podem me dar aula em casa, para recuperar o conteúdo. Disseram pra eu focar em ficar boa. Rezaram muito comigo.
Daqui a dois meses, Léia retornará ao hospital para fazer alguns exames, e espera ouvir de novo o diagnóstico atual: venceu totalmente a doença.
São histórias como essa, que mostram que o câncer pode ter cura, que a professora do Serviço de Oncologia Pediátrica do HCPA Mariana Bohns Michalowski quer mostrar para quem chega ao hospital. Idealizadora do projeto do sino da conquista, ela afirma que inspirou-se em uma iniciativa parecida de um hospital americano.
— Nós temos poucos momentos para comemorar juntos as vitórias que alcançamos — diz ela, na sala de recreação, onde fica o sino, rodeada de crianças e demais profissionais da saúde, que brindam com refrigerantes e se deliciam com salgadinhos e bolo. — Queremos fazer esse momento de comemoração a cada quatro meses. A ideia de que câncer na infância é incurável precisa acabar. É claro que é um problema grave, que exige muito das famílias e das crianças, mas as chances de cura são muito altas.
Geograficamente, há uma distância entre pacientes que estão iniciando o tratamento no Clínicas, que ficam na internação, e os que estão finalizando os procedimentos, que são atendidos no ambulatório. O sino reacende na equipe a vontade de compartilhar com os recém-chegados as vitórias conquistados pelos pacientes mais antigos.
— O objetivo é que todas as crianças que acabaram o tratamento recentemente possam tocar o sino, como um marco importante para elas e um estímulo àqueles que ainda se encontram em tratamento — explica Mariana, que atua no Clínicas desde 2009.
No canto da sala, Nathanael Holz Hubner recebe atenção da equipe médica durante toda a tarde. Com olhinhos azuis e bochechas fartas, ele observa atento a movimentação. No colo da mãe e do alto de seus quase nove meses, que serão comemorados em 8 de dezembro, Nathanael já travou sua primeira grande batalha.
Prematuro, o pequeno nasceu em 8 de março em Pelotas. Com 21 dias, recebeu o diagnóstico da doença. Depois de pouco mais de oito meses de luta, ele deixa para trás as sessões mais pesadas de químio e volta pra casa em São Lourenço do Sul, onde receberá por um tempo doses orais como tratamento. Foi um dos primeiros a balançar a cordinha do sino.
Durante todo o período internado no Clínicas, ele recebeu os cuidados da mãe, Carla Holz Hubner. A dupla voltou à cidade natal do pequeno por apenas dois dias, mas ele teve febre e precisou retornar à Capital. Agora, a trabalhadora do ramo da pecuária e olhos tão azuis quanto o filho, planeja o encontro com todos os familiares.
— Estamos em uma cidade grande e não conhecemos ninguém, mas todo mundo aqui sempre foi muito atencioso. Aqui só é permitido uma visita por dia, então é difícil. Muitos parentes não conheceram ele ainda. Agora, que iremos apresentar ele.