A quantidade de imóveis disponíveis para locação caiu 15,9% no período logo após a enchente nos quatro bairros mais atingidos de Porto Alegre. É o que aponta levantamento exclusivo feito pelo Secovi/RS, a pedido de Zero Hora, com base em uma amostragem.
Segundo a entidade, que representa o mercado imobiliário gaúcho, Sarandi, Menino Deus, Farrapos e Humaitá ofertavam 1.033 imóveis residenciais, comerciais e de outros tipos em abril —mês anterior à tragédia climática. Em agosto, 868 estavam disponíveis.
— Esses imóveis que ficaram vagos pela enchente, muitos deles, saíram da amostra. Por quê? Se eu tenho um imóvel e ele pegou enchente, preciso reformá-lo se eu quiser alugar de novo — resume Lucineli Martins, economista-chefe do Secovi/RS.
O levantamento aponta reflexos diferentes entre os bairros. No Sarandi, por exemplo, havia 375 imóveis disponíveis para locação no mês de abril. O número caiu para 277 em agosto, uma queda de 26,1%. O maior impacto ocorreu entre os residenciais: redução de 29,1%.
Já no Menino Deus, o total de imóveis disponíveis para locação caiu 11% em agosto, na comparação com abril. Contudo, o maior impacto foi sentido entre espaços comerciais: eram 459 pontos em abril e 382 em agosto, queda de 16,7%.
O Secovi/RS ainda não fechou o levantamento relativo ao trimestre mais recente. Porém, uma análise preliminar de outubro já aponta uma retomada na oferta de imóveis para locação.
— O maior aumento está no bairro Sarandi, cerca de 15% maior na oferta em outubro com relação a agosto. No Menino Deus também subiu, porém não numa quantidade tão grande —adianta Lucineli.
No Sarandi, aumento nas vendas
A venda de imóveis também foi impactada pela enchente. No Menino Deus, o trimestre de junho a agosto — logo após as inundações — foi responsável por 33% das vendas de todo o ano, o menor percentual em seis anos.
Já no Sarandi, o levantamento do Secovi/RS aponta que houve um salto pós-enchente. O trimestre de junho a agosto foi responsável por 55% das vendas no ano.
— Essas vendas foram, na maioria, apartamentos. Ou seja, pode ser alguém que vivia em uma casa atingida ou alguém que estava de aluguel. Também foram vendidas 134 garagens comerciais. Olhando pelo cenário, possivelmente alguém viu como uma oportunidade de negócio comprar um prédio garagem, pois muitos carros se perderam — explica a economista do Secovi/RS.
Impactos no comércio
Apesar de estragos em diversos estabelecimentos comerciais, o saldo de abertura de empresas foi positivo no período depois da enchente na Capital. Segundo o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), entre maio e setembro foram abertos 313 CNPJs e baixados 297.
A pesquisa da entidade considerou 22 bairros afetados pela enchente, entre eles Centro Histórico, Cidade Baixa, Menino Deus, Sarandi, Farrapos e Humaitá.
— É um dado positivo, mas a gente esperava mais, a cidade vinha se transformando. Mas devido à situação da enchente, esse é um número que dá para a gente comemorar — avalia Arcione Piva, presidente do Sindilojas.