Mesmo com o vento sul, o nível de água no bairro Arquipélago, em Porto Alegre, pouco baixou durante a tarde desta segunda-feira (3). É o caso, principalmente, da Ilha das Flores e da Ilha da Pintada, pontos para onde muitos moradores ainda não puderam retornar.
No bairro Arquipélago, centenas de casas foram afetadas, com algumas sendo totalmente destruídas pela enchente. A residência do técnico em audiovisual, Ricardo Sauer, 54 anos, foi uma delas. Ao fundo do terreno, ficava a moradia de dois tios e a da sogra, que também foi destruída.
— Moro aqui há seis anos e as outras enchentes não foram iguais a essa. O difícil é chegar no outro dia e não ver mais casa, só água — disse o morador da Ilha da Pintada.
Inúmeras dessas residências foram arrastadas para o meio de ruas, enquanto outras foram levadas pela água do Rio Jacuí. Na Ilha da Pintada, a reportagem de GZH encontrou veículos virados pela correnteza que se formou no ápice da cheia, animais abandonados e até mesmo móveis, como geladeiras e armários, em cima de árvores.
Mesmo com este cenário, moradores de algumas ruas estão retornando para começar a limpeza das casas. Um deles é Voltaire Donatto, 69 anos, que teve parte da casa destruída pela enchente.
Funcionário da embarcação Noiva do Caí, também na Capital, ele e a família tiveram de sair às pressas de casa. O idoso começou a limpeza nesta segunda-feira. Temeu ter de adiar o início do trabalho em razão da subida do nível do Jacuí durante a manhã, mas, com o recuo de tarde, foi possível retirar resíduos da cozinha e dos quartos, tomados por lama e pedaços de paredes caídas.
— Eu e minha família saímos e fomos abrigados por parentes. Estávamos lá, mas o pensamento aqui. As casas dos vizinhos que ficam aqui do nosso lado foram arrastadas. Aqui em casa, perdemos quase tudo — lamentou Voltaire.
Famílias seguem às margens de rodovias
Muitas famílias permanecem às margens da BR-290 e da BR-116. A moradora da ilha das Flores, Marina Reis, 24 anos, está há 38 dias abrigada com o marido em uma barraca na altura do km 105 da BR-290.
Nascida e criada na região, a faxineira também não consegue sair para trabalhar no Centro e na zona norte da Capital. Ao retornarem para casa pela primeira vez nesta segunda-feira, ela e o marido encontraram mais de 40 centímetros de lama dentro da residência. Durante a enchente, eles usaram a geladeira como um barco improvisado para conseguir sair da casa.
— O nível da água chegou a três metros e meio dentro de casa e só conseguimos retirar o cachorro. Conseguimos doações por meio de pessoas que cuidam dos abrigos. Ficamos só com as paredes de casa, mas teve gente que perdeu tudo. Lá em casa, vamos precisar de ajuda com essa limpeza — afirmou.
Em razão do risco aos moradores abrigados nas imediações das rodovias, há afunilamento de pista na BR-290, o que causa congestionamento do trânsito na região das ilhas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), não há prazo para liberação total do trecho, que tem bloqueio em uma das faixas.
No entanto, ainda nesta segunda, membros do Exército auxiliaram na remoção de 10 famílias que estavam às margens da rodovia, na altura do km 100, na ponte sobre o Saco da Alemoa, em Porto Alegre. Além da retirada, também foi realizada limpeza na pista do local.
Um trecho de 150 metros foi liberado para trânsito no sentido Interior-Capital. A ação faz parte de um alinhamento entre a PRF, Exército, Marinha, Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura de Porto Alegre. A previsão é de que todas as famílias sejam retiradas da região até o final desta semana.