Foi com um sorriso no rosto que Viviane da Luz de Bertoli, 52 anos, retornou ao trabalho na Estação Rodoviária de Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (7). O local voltou a funcionar por volta das 6h, após passar mais de um mês fechado por conta da enchente. A nova operação ocorre de forma reduzida, mas é simbólica para a reconstrução do Estado.
Para marcar a reabertura, os passageiros foram recepcionados com bandeirinhas do Rio Grande do Sul entregues pelas mãos de Viviane, em meio a sorrisos e risadas. Ela costuma trabalhar atendendo no balcão de informações da rodoviária, mas encantou-se com a função desempenhada nesta sexta.
— Essas bandeiras são um símbolo do recomeço de todos os gaúchos — definiu.
Viviane trabalha há 13 anos na Estação Rodoviária de Porto Alegre. No último mês, chegou a atuar na operação provisória montada no Terminal Antônio de Carvalho, na zona leste da Capital. Ela fala da experiência com orgulho, pois sabe que cumpriu um papel importante para a superação da crise, e celebra a reabertura de seu local de trabalho oficial:
— Estou muito feliz, não via a hora de poder voltar para cá. Foi muito triste ver como tudo ficou, porque eu gosto muito de trabalhar aqui. A gente conhece muitas histórias, é sempre aquele movimento de pessoas. Hoje, vendo as coisas voltando a ser assim, estou me sentindo realizada.
Amigas e colegas de trabalho na rodoviária, Vera Aparecida da Silva e Jussara Martins, ambas de 65 anos, também comemoraram a reabertura do local. As duas trabalham na venda de passagens há 40 anos. Iniciaram no cargo praticamente juntas, com alguns meses de diferença, e sentam lado a lado nos guichês de atendimento.
As atendentes não tiveram suas residências atingidas pela enchente, mas viram o setor no qual trabalham há quatro décadas ser tomado pela água.
— A rodoviária foi meu primeiro emprego. Foi uma tristeza incalculável quando vi que a água tinha chegado até aqui e tomado conta dos guichês. Fiquei arrasada — lembra Jussara.
O sentimento é compartilhado por Vera, que vê na reabertura uma luz no fim do túnel:
— Estive aqui logo que a água baixou e vi uma cena de guerra. Achei que demoraríamos mais para voltar, porque o cenário era muito assustador, mas que bom que já conseguimos. Esse retorno à rotina é importante para a gente se recuperar, porque o psicológico de todo mundo ficou abalado com isso.
Motorista da empresa Unesul, Michael Vargas, 40 anos, tem a mesma percepção. Ele não parou de trabalhar durante o período crítico da enchente, mas diz que é o retorno à rodoviária que traz de volta a confortável sensação de rotina.
— Quem trabalha na estrada viu a devastação de perto, não foi fácil. Então, é bom saber que algo está voltando a ser como era antes. E o Terminal Antônio de Carvalho serviu bastante para nós, mas era limitado. Agora, também vamos poder atender melhor os passageiros — diz o motorista.
Para o taxista Daniel Pacheco, 58 anos, a reabertura da rodoviária significa a retomada de sua fonte de renda. Morador de Canoas, ele ficou mais de um mês sem conseguir trabalhar, pois o táxi é lotado em Porto Alegre e não pode circular em outra cidade. Mas, em meio à tragédia, não havia como chegar à Capital em tempo hábil para que o expediente rendesse. Sem ter muita saída, o taxista conta que usou o veículo para ajudar nos resgates em Canoas e que abriga, ainda, 18 pessoas em sua residência.
Ele estava tão ansioso para retornar ao ponto da rodoviária que chegou ao local duas horas antes do horário marcado para a reabertura, às 4h. Perto das 8h, estava esperançoso de que a sexta-feira seria o início de um novo capítulo:
— Já fiz duas corridas, de R$ 12 e de R$ 16. Não paga o combustível ainda, mas já é recomeço, graças a Deus. Só de ver as pessoas aqui de novo, reencontrar os colegas, cada um contando o que passou, já valeu o dia.
Nesta sexta-feira, os pontos comerciais da rodoviária ainda permaneciam fechados. Segundo Giovanni Luigi, diretor de operações do terminal, a limpeza dos estabelecimentos iniciou na quinta (6) e deve ser retomada na segunda (10).