Ao chegar no edifício Marechal Trompowsky, na Rua Siqueira Campos, 852, no Centro Histórico, a sensação é de estar fazendo parte de um filme de terror. Completamente às escuras, o prédio está com uma de se suas portas de vidro quebrada e o chão é repleto de lodo e entulho, além do cheiro podre impregnado. E a situação está desta maneira há quase um mês.
A luz foi desligada em 3 de maio e, desde então, não é possível que a água seja bombeada para os 84 apartamentos, distribuídos por 21 andares. Assim, os dois poços no térreo, que acumulam 40 mil litros de água, precisam ser acionados via mangueira e os moradores levam a água de baldes para as suas residências. O banho, então, é de caneca.
No prédio, a água atingiu a marca de 1m80cm e, apenas nos últimos dias, ela recuou — porém, segue nos poços dos elevadores. Mesmo dessa forma precária, alguns moradores decidiram ficar para garantir a segurança do prédio, mas o cenário mais dramático é o dos residentes que não puderam sair por impossibilidade.
É o caso de Conrado de Lima, 31 anos, que mora no prédio com a mãe, Janine de Lima, 60, e a avó Ondina de Lima, 89. A família é residente do local há 35 anos, mas não pôde ser evacuada justamente pela avançada idade da matriarca:
— No processo de evacuação, quando a água estava alta, a gente tinha que pular do segundo andar, da sacada, para a marquise do prédio, que já é alto. E, depois da marquise, descia uma escada de ferro até o barco. E, mesmo com equipamento, não ia dar certo para a minha avó, porque ela não tem uma postura ereta, com dificuldade de locomoção. Então, decidimos permanecer.
Conrado, além de dar suporte para a família, também está vigiando o prédio durante a noite, uma vez que sentem que a segurança pública não está dando atenção o suficiente para o prédio, que ainda tem moradores. Até o momento, então, não foi registrado saques no local.
Sem solução
O morador Luiz Carlos Modesto, 54 anos, ressalta que já foram feitos diversos pedidos de religação da energia no prédio, mas as equipes da CEEE Equatorial chegam ao local, avaliam que o transformador de distribuição do prédio está com vazamento de óleo. Assim, seria necessário um gerador até a resolução do problema, mas até a noite desta sexta-feira (31) o drama ainda não havia sido atenuado.
— Estamos abandonados. Tem pessoas idosas no prédio que não puderam sair. Ficaram 10 pessoas no prédio. Estamos nesta situação, a gente só vive enganado. Isso é triste, lamentável. A gente paga a energia direitinho. É triste, lamentável — avalia Modesto. — É o centro de Porto Alegre e está deste jeito. Este é o único prédio residencial da rua. É só notícia ruim.
Wagner Velasques e sua família deixaram o prédio após cinco dias ilhados. Foram para o Litoral. Porém, ele havia retornado temporariamente para avaliar a situação do local nesta sexta e nem na rua havia energia nos postes até poucos dias atrás. Então, era um breu total e apenas lanternas eram fontes de luz no edifício.
— Na frente do nosso prédio, ainda está cheio de água represada. Nunca deram atenção. Estamos na esperança de que isso baixe o quanto antes para que a gente possa, pelo menos, fazer a limpeza do prédio. Estamos aguardando a solução deste problema para poder voltar para cá com a família.
A reportagem entrou em contato com a CEEE Equatorial que, por meio de sua assessoria, afirmou que uma equipe daria prioridade para a situação do edifício Marechal Trompowsky ainda na sexta-feira. Os moradores afirmaram que a luz voltou no prédio neste sábado (1º). O abastecimento de água, porém, só deve retornar na segunda-feira (3).