O que era um campo de futebol, nos fundos do Centro Humanístico Vida, na zona norte de Porto Alegre, agora está se tornando uma ponta de esperança na busca de um pouco mais de dignidade. Ali, o terreno está sendo preparado para receber moradias temporárias para 800 pessoas atingidas pela enchente que não têm casa para voltar e que, por isso, seguem abrigadas no espaço comunitário.
Na tarde deste sábado (15), quando se completou uma semana de operação no local, caminhões com materiais, entre pedras, fios, gradis e as peças que formarão o tablado onde as estruturas serão construídas, chegavam e saíam do campo de obras. Enquanto isso, máquinas pesadas, entre escavadeiras, motoniveladoras e rolos compactadores, estavam em plena operação, elevando e, depois, compactando o terreno, que fica na Avenida Homero Guerreiro, no bairro Costa e Silva, e que pertence ao governo estadual.
De acordo com vice-governador Gabriel Souza, a previsão de entrega das moradias temporárias, que fazem parte do chamado Centro Humanitário de Acolhimento (CHA), no Centro Humanístico Vida, será de até 20 dias, caso a chuva, que retornou neste final de semana, não seja intensa demais e atrase as obras. A previsão é de que 800 pessoas fiquem ali até a entrega das residências prometidas pelo governo federal aos gaúchos que perderam tudo na enchente.
A infraestrutura que será a base do projeto está sendo montada pela prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), com uma equipe que tem cerca de cem pessoas e investimento na casa de R$ 1,5 milhão. De acordo com órgão, por meio de sua assessoria de imprensa, o aterro em rocha que está sendo feito no espaço já está 90% concluído, enquanto a drenagem do terreno, que é alagadiço, já foi finalizada.
O projeto ainda conta com sistema de esgoto, água e luz, que serão disponibilizados nos próximos dias. Neste meio tempo, nos locais em que as obras já estão mais avançadas, as moradias já podem começar a ser montadas. As residências temporárias são compostas por painéis feitos de plástico tratado com tinta contra incêndio, com uma malha que protege de umidade e mofo, além de estruturas que são de aço cromado.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM), da Organização das Nações Unidas (ONU), será a responsável pela gestão do local.
— As estruturas são muito parecidas com os hospitais de campanha mais avançados que tínhamos em alguns lugares do Brasil, onde pessoas ficavam internadas. Então, são estruturas capazes de albergar pessoas provisoriamente. E a gente consegue, inclusive, fazer individualização de unidades familiares nestes locais. Vai ter mobília, com camas adequadas, coisa que não se encontra hoje nos ginásios pelo Estado. A gente vai conseguir dar uma dignidade melhor para as pessoas — explica Gabriel Souza.
Para a contratação dos serviços, que deverão ser instalados em cinco espaços no Estado, entre Porto Alegre e Canoas, abrigando um total de 3,7 mil pessoas, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) investirá R$ 100 milhões.
— Essas pessoas precisam sair dos locais de acolhimento, que não são acomodações adequadas. São acomodações provisórias e que atenderam bem as pessoas em um primeiro momento. Muitas, porém, não têm como voltar para as suas casas. Então, quando o Estado falou em cidades temporárias, a gente viu que tínhamos velocidade de contratação e essa era a nossa grande vantagem. Caso o Estado fosse buscar esta verba, teria que ter uma lei na Assembleia aprovada. Então, a nossa entrada neste processo facilitou muito o fornecimento destes centros — avalia o presidente da Fecomércio/RS, Luiz Carlos Bohn.
Se a chuva não for intensa na região do Centro Vida, as obras de aterro continuam. Porém, neste domingo (19), a SMOI não atuará no local porque as pedreiras não funcionam e, assim, não há fornecimento do material necessário para seguir. As questões de instalação elétrica também ficam prejudicadas com o aguaceiro. De acordo com o órgão municipal, o cronograma está dentro do previsto.