Um ecossistema que tem o poder de se retroalimentar, mas nem por isso abre mão de ter um olhar global. Entrando de uma vez por todas no mapa mundial da inovação, o Rio Grande do Sul celebra um momento em que fervem iniciativas de fomento a startups, parcerias e quaisquer tipos de projetos que levem para o futuro.
Tudo isso tem sido possível graças ao senso de colaboração que se instaurou nos últimos anos. Universidades, com seus parques tecnológicos, entidades da sociedade civil, empresas e poder público compreenderam que todos têm papel importante nessa engrenagem. Desde então, o que se viu foi um Estado motivado, inclusive com estrutura interiorizada, indo além da Capital.
Foi retratando esse ambiente aos principais eventos de inovação do planeta que um time gaúcho chamou a atenção do South Summit, fundado em Madri, em 2012. A ideia de trazer um desses encontros para cá deu certo.
— O South Summit passou a ser um símbolo do novo momento que se estava vivenciando em Porto Alegre e contaminando todo o Estado. As raízes da inovação são profundas por aqui, com um cluster acadêmico poderoso. Já tínhamos, também, um conjunto de empreendedores importantes. Ainda assim, desacreditávamos um pouco de sermos referência nesse novo jogo da inovação. A partir de 2018, percebemos que o que nos falta é articulação, sistema de jogo — ilustra o secretário de Inovação de Porto Alegre, Luiz Carlos Pinto.
A base desse trabalho está nos centros de inovação, como os parques tecnológicos, ligados às universidades, e institutos como o Caldeira (Porto Alegre) e o Hélice (Caxias do Sul). Assim como projetos do poder público, eles também são acompanhados e incentivados por empresas vindas de duas vertentes: as que buscam escalar com ideias disruptivas e as que já têm estofo e procuram soluções inovadoras ou oportunidade de investimento. É assim que o Rio Grande do Sul tem atraído talentos e se inserido na economia criativa.
— O jogo da inovação é global e o South Summit nos permite trazer 130 fundos de investimento para se relacionar com nosso ecossistema. Uma dessas startups, por exemplo, decidiu entrar no Brasil via Porto Alegre, contratou um brasileiro como representante e está ancorada no Instituto Caldeira — exemplifica Luiz Carlos Pinto, que também é coordenador do Pacto Alegre, que congrega todos os atores imbuídos no objetivo de criar um ambiente cada vez mais propício para a geração de negócios.
Oportunidades
O destaque do Estado como um celeiro para inovação atrai negócios, mas também contribui para outro ponto importante: a retenção de talentos. Um ambiente que favorece o empreendedorismo faz com que muitos profissionais permaneçam ou venham para o Rio Grande do Sul, entendendo que aqui estão as oportunidades.
— Isso gera muita riqueza. Temos de ter esse olhar, também. Não é a inovação pela inovação, mas o impacto econômico que ela traz para todo o Estado, já que isso se retroalimenta. Temos novas empresas sendo instaladas, criação de novas economias, difusão de conhecimento e retenção de talentos. A grande meta deve ser tornar o ambiente bom para viver e, para isso, tem de ser competitivo e bom para as pessoas — defende o diretor técnico do Sebrae RS, Ariel Fernando Berti.
Para o presidente do South Summit, José Renato Hopf, o fomento a novos negócios é um ponto fundamental. Ele destaca a quantidade de eventos paralelos e encontros promovidos, causando uma onda positiva que faz outras cidades, no Interior, lançarem encontros com o mesmo intuito.
— O que a gente quer é isso: um fundo de investimento falando com uma startup, organizando jantar, encontro de startups investidas com outras e meetings de empresas com palestrantes. São 700 palestrantes e mais de 80 países no evento. Mas a maioria é de gaúchos, então nosso Estado é o mais impactado por esse processo — destaca Hopf.
Capital de negócios
Durante os três dias de evento, profissionais vindos das principais referências em inovação no mundo se encontram em Porto Alegre. Os olhos se voltam todos para cá. Além de mostrar o que pode ser desenvolvido por aqui, é a chance de criar novas oportunidades.
— Quando você reúne diferentes atores do ecossistema em um mesmo local, o potencial de geração de negócios é enorme. Os participantes do evento vão com a intenção de conhecer soluções inovadoras, ter novos insights e vender seus próprios produtos e serviços. Assim, startups e demais empresas gaúchas certamente vão conseguir fechar negócios e captar clientes durante e pós evento, o que fortalece a economia do Estado — analisa o diretor de Marketing e Vendas da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Paulo Buso.
Segundo ele, uma parte do público vai ao evento apenas com uma ideia abstrata de negócio. Chegando lá, essa ideia pode se materializar e se transformar no início de um novo negócio por meio do networking, conteúdos e conhecimento de diferentes soluções.
O gestor de Relacionamento e Negócios do Tecnopuc, Leandro Pompermaier, acredita que o South Summit é um importante ponto de contato com polos de inovação, grandes corporações, projetos inovadores e governos de outros Estados ou países:
— O evento abre uma porta para que a gente se conecte com mercados mais pujantes, com novos empresários, com investidores e com representantes de governos. Essa relação acaba atraindo investimento em negócios que estão sendo gerados dentro dos nossos ecossistemas.
O vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, concorda. Tendo o South Summit como um dos projetos prioritários em seu gabinete, vê o evento como um espaço de networking, criando condições para que investidores que dificilmente visitassem a cidade participem do debate sobre inovação com os players locais.
— Essa oportunização que se cria, de mostrar mais de 1,3 mil startups gaúchas em um ambiente propício para isso, acaba fomentando novos negócios e novas formas de captar recursos — saúda o vice-governador.
Para Souza, o ambiente de negócios no Estado pode ser dividido entre antes e depois da chegada do South Summit. Isso porque a inovação é um assunto muito transversal, não ficando restrito a uma área.
— O South Summit mudou de patamar o nosso envolvimento com inovação ao dar maior repercussão e divulgação do quanto ela é importante e está presente no Rio Grande do Sul. E, além disso, coloca o Estado no mapa global de inovação. Quando chegamos na Europa, Ásia, América do Norte ou Latina e falamos que temos uma cidade que sedia o South Summit, as pessoas param para ouvir. Isso não é pouca coisa — conta.
Luiz Carlos Pinto vê, como papel do poder público, entender para onde a economia e a inovação estão indo e entende que o evento é a expressão máxima desse processo.
— O South Summit coroa, amarra e simboliza tudo isso — garante.