O usuário da linha T1 da Carris Isaías Silva, 60 anos, relatou que precisou embarcar em três ônibus diferentes para completar uma viagem de T1 nesta sexta-feira (5).
O primeiro veículo que estragou foi o de prefixo 0691, que saiu do Terminal Triângulo, na zona norte de Porto Alegre, por volta das 10h. Entretanto, antes da metade do itinerário, ainda na Rua Jari, no bairro Passo D'Areia, o coletivo apresentou problemas e precisou interromper o trajeto. Os usuários desceram e precisaram esperar pelo próximo T1, que chegou alguns minutos depois. Este foi o segundo embarque, agora tocado pelo veículo de prefixo 0851.
Mas a viagem não durou muito. Na Avenida Ipiranga, próximo ao Hospital São Lucas da PUCRS, nova pane e mais uma baldeação. Os passageiros precisaram embarcar em um terceiro carro e só então conseguiram concluir a viagem.
Como mostrou o Grupo de Investigação (GDI) da RBS, mais de oito carros da companhia chegavam a quebrar diariamente entre outubro e novembro. E o problema parece seguir.
Silva afirma que não se surpreendeu tanto com a situação. Segundo ele, que usa frequentemente os coletivos da Carris, as baldeações por panes nos ônibus são constantes.
— Está bem complicado, parecem sucata esses ônibus na rua. Primeiro, é um bate-estaca, sempre tremendo, barulhentos. O ar-condicionado ou não funciona ou funciona mal — reclama Isaías, que enviou à reportagem imagens que mostram os ônibus estragados. As fotos foram registradas às 10h10min e às 10h52min.
A reportagem de GZH circulou pelo trajeto do T1 por volta das 12h, mas os carros já haviam sido recolhidos. Ainda assim, GZH foi até a garagem da companhia e encontrou o carro de socorro mecânico saindo para um resgate. O veículo dirigiu-se até a Avenida Protásio Alves, na altura do cruzamento com Avenida Saturnino de Brito, na Zona Leste. Por lá, outro coletivo da Carris estava enguiçado, o de prefixo 0796. O ônibus estava operando a linha T4 e no momento da pane fazia o sentido Norte/Sul. Conforme a reportagem apurou, foi o segundo defeito do veículo na mesma manhã.
Em contato com a reportagem, a Carris nega a necessidade de duas baldeações em uma mesma viagem. "O veículo de prefixo 691 da Linha T1 saiu do Terminal Triângulo às 9h11min e às 9h20min sofreu problemas de super aquecimento, interrompendo a viagem na Rua Jari. Um minuto após a ocorrência, foi acionado um novo veículo para atender aos usuários. O veículo de prefixo 782 saiu do Terminal Triângulo às 9h21min e foi seguido de mais três veículos, com intervalos de cerca de 10 minutos entre cada largada", declara a empresa
"O veículo de prefixo 851, citado na reportagem como segundo embarque, saiu do mesmo terminal às 10h08min e sofreu uma pane mecânica às 10h50min na Avenida Ipiranga. Portanto, entre a primeira pane ocorrida às 9h20min e a segunda, às 10h50min, aconteceram quatro viagens da Linha T1 no sentido norte/sul", afirma a Carris.
Panes na Carris
Entre outubro e novembro, foram 488 socorros registrados no sistema interno da empresa, que está em processo de privatização pela prefeitura. Os socorros representam situações em que o veículo estraga em viagem e é preciso enviar uma equipe para o conserto. Isso obriga os passageiros a desembarcarem e a esperarem por outro carro sob o tempo, gerando atrasos e estresse. A Carris, em nota, afirma ter 355 registros de estragos no mesmo período e que muitos desses chamados foram resolvidos nos próprios terminais.
A média de oito pedidos de resgate por dia, ante uma frota operante de 249 ônibus da Carris, representa um índice de quebra de 3,21%. Em Porto Alegre, considerando os números dos quatro consórcios privados que dividem a operação do sistema de transporte, a média é de 10,62 carros quebrados por dia, em uma frota operante de 924 coletivos, conforme dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Significa que a taxa de pane na Capital gaúcha entre as empresas privadas é de 1,15% ao dia — o dado da Carris é quase o triplo disso. O índice de quebra da companhia também é superior ao verificado em outras capitais. Em São Paulo, a prefeitura informou que a estatística é de 0,45%. Já em Curitiba, alcança 1,55%, conforme resposta da gestão municipal.