Símbolos de arte urbana em Porto Alegre, nove mosaicos com o rosto da Mona Lisa, obra mais famosa de Leonardo da Vinci, foram furtados. Ainda não se sabe quem os levou, muito menos o paradeiro deles, já que o monitoramento por câmeras em tempo real não registrou nenhuma imagem. A artista Sílvia Marcon, gaúcha radicada em São Paulo que doou as obras de arte para espaços públicos do cotidiano porto-alegrense, quer que a Polícia Civil investigue o sumiço.
Sílvia percebeu o sumiço quando fazia uma vistoria fotográfica em alguns pontos para lançar um livro em comemoração dos 10 anos de intervenções artísticas urbanas.
— Deste jeito não vai sobrar nenhuma — lamentou Sílvia, por chamada de vídeo, durante visita da reportagem mostrando o lugar onde três delas deveriam estar, na base do Anfiteatro Pôr do Sol, no bairro Praia de Belas.
Além dessas três, outro trio de mosaicos foi furtado da mureta que fica em frente à estação de bicicletas compartilhadas na Avenida Padre Cacique, em frente à Fundação Iberê Camargo, e mais um na estrutura de concreto que fica ao lado do Monumento aos Açorianos, próximo à Ponte de Pedra, na Avenida Loureiro da Silva. Nenhum destes três locais possui câmera de monitoramento por perto.
— Nunca foi preciso manutenção, sempre que passava por Porto Alegre dava uma olhada nelas. Ainda na pandemia percebi a falta das primeiras. Uma amiga que mora ao lado do Iberê viu que as da mureta tinham sumido. Não fui a público reclamar porque era um primeiro caso, e se tratando de arte urbana, um ambiente sem controle, sabia que corria este risco — conta.
Ao longo da mesma manhã, a reportagem de GZH encontrou reproduções intactas da Mona Lisa em outros dois pontos: a fachada do Bar Ocidente, na esquina da Rua João Telles com a Avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim, e na parede da Casa do Estudante Universitário, no número 55 da Rua Riachuelo, no Centro Histórico. Ambos os locais dispõem de câmeras privadas e também da prefeitura por perto.
— Tenho instalações de mais de 100 "Monas Lisas" espalhadas em Paris, Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Canela, Atibaia. Nunca tinha visto nada disso acontecer em nenhuma outra, nem no Rio de Janeiro ou São Paulo, onde a gente considera mais a chance de um vandalismo, só em Porto Alegre. Tenho muito respeito e ética mútua com a cena de arte de urbana em Porto Alegre e nas outras capitais, então sei que não veio deles este furto — assegura a artista.
Processo criativo
Os mosaicos de Mona Lisa são feitos por Silvia no atelier e colados em uma tela de fibra de vidro, que por sua vez é fixada nas paredes com cimento-cola. Todo o processo pode levar horas, até dias, segundo Silvia, que encaixa cada pedaço de azulejos, cerâmica, vidro e espelho direto na estrutura, sem planejar com papel antes.
— É um trabalho de muita expressividade e difícil de imitar, pois vem de dentro da minha cabeça, sai num ritmo próprio — detalha, revelando que os exemplares feitos para venda em galerias podem custar mais de R$ 5 mil.
Silvia teve sua primeira experiência de intervenção urbana no Bueiro com Arte, na Cidade Baixa. Como o próprio nome do projeto sugere, artistas e moradores convidados decoravam bueiros e bocas de lobo de Porto Alegre.
A ideia da Mona Lisa veio a seguir, quando foi convidada a ministrar uma oficina de mosaico urbano. Viu nas releituras da mais famosa tela de Leonardo da Vinci uma oportunidade para demonstrar a técnica, e os próprios alunos revelaram a pluralidade a que a obra se submetia.
Investigação
Sílvia registrou boletim de ocorrência. A Polícia Civil gaúcha confirmou o recebimento da queixa-crime e diz que a investigação ficará a cargo da 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.