As águas do Rio Jacuí e do Guaíba já tomam parte da região das ilhas de Porto Alegre. Vias públicas e residências mais próximas dos rios já foram inundadas nesta quinta-feira (7). Em alguns pontos, a água chega na altura da cintura.
Na Ilha Grande dos Marinheiros, a avaliação geral dos moradores mais experientes é de que a água sobe rapidamente. Mesmo assim, poucos planejam deixar as residências. Segundo eles, o temor de furtos é maior que o de inundações. Sete pessoas estão abrigadas na Escola Alvarenga Peixoto.
No final da tarde, mesmo com a água quase na altura da cintura, o vigilante Fernando Bittencourt saiu de casa para comprar mantimentos e passar a noite:
- Eu nasci na ilha, sei como funciona. Já me preveni, aterrei bem o pátio. Tenho barco, tenho macacão - afirma Bittencourt.
Há quem opte por sair, mas para casa de vizinhos ou familiares na própria ilha. Rute de Lima Ramos carregava uma TV sobre a área inundada. Na casa dela, o nível da água estava acima do joelho. Com três filhos pequenos, ela preferiu ficar em uma casa emprestada, que ainda não havia sido atingida pela água.
- Estou levando três cobertas, as roupas das crianças e a minha TV, para não molhar. A gente já tem pouca coisa dentro de casa. Se molhar o que a gente tem, estamos ferrados – disse, enquanto atravessava uma área inundada na Ilha Grande dos Marinheiros.
Moradores do braço norte da Ilha Grande dos Marinheiros já estavam isolados na tarde desta quinta-feira. A água impede a passagem de automóveis pela Rua Nossa Senhora Aparecida. O único acesso é feito por barcos. Cerca de 50 cestas básicas foram levadas para o local pela Defesa Civil e servidores do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
Na manhã desta sexta-feira (8), subiu para 16 o número de moradores que saíram de casa na localidade e foram encaminhadas à Escola Alvarenga Peixoto. O local está preparado para receber até 50 pessoas.
Trinta animais também foram resgatados ao longo do dia na região. Na Ilha do Pavão, foram resgatados 20 cães e, na Ilha das Flores, dez. Os animais foram levados em um veículo da prefeitura para a Unidade de Saúde Animal, na Lomba do Pinheiro.
O nível da água no Cais Mauá está em 2,44 metros. A cota de inundação é de 3 metros. A última medição feita em uma régua manual na Ilha da Pintada apontou um nível de 2 metros. Na região, a cota de inundação fica entre 2,20 e 2,3 metros.
Servidores da Defesa Civil, Guarda Municipal, Brigada Militar e Fundação de Assistência Social e Cidadania acompanham a situação e percorrem as áreas com risco de alagamento.
Tendência é de que o Guaíba continue subindo
O governo do Estado também acompanha o aumento do nível das águas através da Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, em articulação com a Defesa Civil estadual. Conforme o hidrólogo Pedro Camargo, da Sala de Situação, a tendência é de o Guaíba continue subindo nas próximas 24 horas, com reflexos nas ilhas do Delta do Jacuí.
- O principal problema agora é a evolução dos níveis do Guaíba. Ele acabará recebendo o pico das cheias do Taquari e dos Sinos. Permaneceremos analisando o comportamento do Guaíba, que é influenciado por vários fatores, inclusive a direção dos ventos. Naturalmente, com o escoamento da água, ele subirá um pouco, podendo atingir, no máximo, três metros, que é a cota de extravasamento dele no cais - explicou Camargo.
O alerta para inundação do rio Jacuí, a partir de Triunfo até o Delta do Jacuí e ilhas do Guaíba, foi renovado na manhã desta quinta (7), com vigência até as 9h de sexta (8).