O nível do Guaíba atingiu, no final da manhã desta quarta-feira (27), 3m17cm no Cais Mauá, conforme dados da prefeitura de Porto Alegre. A marca é a mais expressiva desde 1941, quando a medição chegou a 4m75cm no Centro Histórico. Há oito anos, quando houve a última grande enchente na cidade, o máximo registrado foi de 2m94cm.
Devido à elevação do nível do Guaíba, as comportas que compõem o sistema de proteção contra inundações foram fechadas — as duas últimas na terça-feira (26). Apesar disso, a água já atingiu um trecho da Avenida Mauá, em frente ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Todos os portões foram reforçados com dezenas de sacos de areia. Conforme o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), aproximadamente 190 toneladas de material foram utilizados. A prefeitura não descarta a possibilidade de acrescentar mais barreiras.
Para quem trabalha na região central, como o servidor dos Correios Airton Castro de Oliveira, 52 anos, o expediente terminou mais cedo, devido à preocupação com o avanço da água.
— Já nos liberaram para evacuar o prédio, mas o muro vai funcionar. Quem projetou ele deve estar contente. Talvez, se continuar chovendo, a água se aproxime dos prédios, mas não será como em (na enchente de) 1941 — disse.
Trechos da Orla invadidos pela água
No Trecho 1 da orla do Guaíba, em frente ao Gasômetro, o nível da água invadiu o deque e as passarelas, chegando próximo aos quiosques. Moradores da região e trabalhadores acompanharam a situação com preocupação.
O cenário distinto chamou a atenção do casal Lúcia Freitag, 69 anos, e Orestes Schuvartz, 85, que trocou a caminhada matinal por uma pausa para registros fotográficos.
— Realmente, os passeios aqui estão todos ocupados. É uma situação histórica e provavelmente não verei algo assim na minha vida. A gente sente pelas pessoas que estão sendo afetadas também, especialmente no (Vale do) Taquari e nas Ilhas (do Guaíba) — disse Lúcia.
Morador da região central da Capital há mais de quatro décadas, Schuvartz disse à reportagem de GZH nunca ter visto um cenário parecido com o atual.
— É impressionante. Eu nunca tinha visto isso antes, com água além dos deques. Isso que moro e faço esse caminho aqui há 41 anos. É uma tragédia, mas a visão, apesar de tudo, está fantástica. Dificilmente se repete — relatou o aposentado.
Quem circula pelo trecho 3 também se depara com o avanço da água sobre as quadras esportivas. Seja nas de tênis, de vôlei ou de futebol, há muitos galhos e até troncos de árvores espalhados pelo chão.
O único ponto da região que não foi atingido pelo avanço do Guaíba é o da pista de skate. No entanto, por conta da chuva, um dos pontos da pista está com água acumulada, dificultando a prática do esporte pelos usuários, como o atleta e universitário Eduardo Flores Josefino, 18.
— Se continuar assim por mais uns três dias, com o vento sul, a água vai invadir a pista aqui. Já tem ponto alagado. Se inundar a pista, vai ser muito difícil de recuperar — lamentou.