Porto Alegre sediou nos dois últimos dias um evento feito por moradores da periferia, que celebra iniciativas deles. Foi um sucesso. Mais de 4 mil pessoas passaram pelos estandes da ExpoFavelaRS, que ocorreu no Centro de Eventos da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6681, Prédio 41).
O evento é uma realização da Favela Holding e tem parceria social da Central Única das Favelas (Cufa), com apoio de instituições governamentais e de estímulo à iniciativa privada, como o Sebrae. Um passeio pelos estandes revela um mosaico de iniciativas pouco conhecidas da maioria dos gaúchos, mas que esbanjam inovação e criatividade.
Próximo a um dos palcos era possível cruzar com um grupo de jovens vestidos com trajes típicos dos guerreiros farroupilhas da Guerra dos Farrapos: bombachas mescladas a uniformes militares, pés descalços metidos em panos que simulam botas de garrão de potro, usadas pelos cavaleiros gaúchos. Augusto Rodrigues, Nicolas Terra, Victor Terra e Mariele Aduké percorrem o pavilhão numa dramatização sobre os Lanceiros Negros, unidade militar que lutou pela independência do Rio Grande do Sul e foi desarmada e dizimada pelos soldados do Império. Ao que consta, numa traição cometida pelos próprios farrapos, que num acordo de paz com as tropas federais, quebraram a promessa de libertar seus escravos e deixaram eles à mercê da vingança dos imperiais.
O grupo de Lanceiros Negros, que encenará um espetáculo neste ano, é impulsionado por Mário Terra, do Centro de Cultura Negra Brasil-Estrangeiro, de Viamão.
— É uma favela onde se pesquisa o Estado, a pátria e a cultura negra. Criamos um acampamento afro-gaúcho e temos boas relações com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) — descreve Terra.
Num outro espaço do prédio da PUC, a artista plástica Mariane Tavares, a Mariri, trouxe de Santa Maria esculturas fantásticas em gesso, como uma loba que envolve a cabeça de uma menina – despertando imediatamente a curiosidade geral.
— Eu me inspirei em sonhos que essa menina tinha. Faço esculturas a partir de sucata — explica ela.
Outro artista, cujo codinome é Cássio Tambor, alcunha seu trabalho de Tambor Terapia. Ele fabrica atabaques, bongôs e outros instrumentos de percussão de origem africana a partir de galhos de árvores. Alguns com casca e tudo. Cada um deles recebe um nome e um significado.
Um dos pontos altos da ExpoFavela foi o Hackatchê, iniciativa em que estudantes do Ensino Médio de cinco escolas estaduais, com projetos selecionados pela Cufa, passaram dois dias recebendo oficinas de mentoria. Depois de qualificar suas ideias, as apresentaram ao público, numa iniciativa da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para incentivar o empreendedorismo em comunidades escolares localizadas em favelas.
Os cinco finalistas foram: Restinga em Foco; Conecta Harmonia; Banco Comunitário Umbu.ntu (da vila Umbu, em Alvorda); Fala; e Promovendo a Inclusão e a Agilidade: A Facilitação do Processo Judicial na Troca de Nome para Pessoas Transgêneras. O ExpoFavela circula por 20 Estados ao longo do ano, coletando exemplos de iniciativas notáveis da periferia.