Um gambá-de-orelha-branca, espécie comum no Rio Grande do Sul, foi resgatado na manhã desta quinta-feira (22) por frequentadores do Parque da Redenção, em Porto Alegre, e levado para atendimento. O animal estava sem a maior parte da cauda, com infecções em ferimentos nas patas, fraturas na coluna vertebral e no crânio, além de apresentar sinais vitais debilitados.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) — que dispõe de um setor voltado à proteção e ao resgate de animais silvestres — foi acionada, mas não foi ao local em um primeiro momento por não ter veículo à disposição. O gambá, então, foi levado a uma clínica veterinária na Zona Norte, onde também funciona a ONG Voluntários da Fauna.
— A lesão neurológica é geralmente decorrente de uma paulada, ou até ferimento de ataque de cachorro. Este está com a cauda e a pata ferida. Por ter infecções, parece que os ferimentos foram causados há mais dias — detalha a médica veterinária Gleide Marsciano.
Já pela manhã, Gleide afirmou que era pequena a chance de o bicho sobreviver. No fim da tarde, a clínica confirmou a morte do gambá, que deve ser encaminhado para necropsia.
Também na manhã desta quinta, um gambá foi encontrado morto por frequentadores em outra região da Redenção. Em nota, enviada à reportagem no começo da tarde, a Smamus informa que o animal foi encaminhado pela equipe técnica à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para realizar exame de necropsia (leia a íntegra abaixo).
Outros casos registrados
A ONG Voluntários da Fauna tem registro de outros quatro gambás que também chegaram ao local feridos e que foram encontrados por frequentadores da Redenção apenas neste ano. Todos foram atendidos da mesma forma, mas nenhum deles sobreviveu.
A Smamus afirma que mantém contato constante com a entidade e coleta os corpos dos animais mortos para levá-los para perícia. A análise que busca descobrir a causa da morte deles é feita por estudantes de Veterinária da UFRGS.
Frequentadores da Redenção denunciam que há mais casos de gambás que apareceram mortos no parque. No último dia 14, a Smamus recolheu um deles, encontrado sem vida em meio à área verde. Já o Coletivo Preserva Redenção fez três boletins de ocorrência na Polícia Civil, entre fevereiro e maio, pedindo investigação sobre esses casos. Fotos do grupo mostram ao menos quatro gambás mortos nos últimos 40 dias.
De acordo com a Smamus, não foi possível encaminhar à perícia o corpo do gambá encontrado na semana passada devido ao avançado estado de decomposição. Em imagens feita por membros do Coletivo Preserva Redenção, é possível ver que havia diversas marcas de dilaceração no animal.
— O (gambá) que estava boiando foi o primeiro deles que encontramos destroçado, em pedaços. Fotografamos todos que encontramos, com imagens do espaço em volta — comenta a professora Ana Maria Dal Azen, uma das porta-vozes do coletivo.
— Queremos que a prefeitura investigue o que está acontecendo, além de fazer uma campanha para proteger os gambás no habitat deles — complementa.
A Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (Dema) investiga o caso e ainda aguarda resultado de perícias para encaminhar depoimentos. Sobre os relatos sobre supostos ataques de cães aos animais, a titular da Dema, Samieh Saleh, responsável pelo inquérito, afirma serem "boatos".
— Isso é tratado como boato, por enquanto. Pois, dos gambás mortos, apenas um estaria com lesão compatível de eventual mordida — diz Samieh.
"São acostumados a viver em ambiente urbano"
A chefe da equipe de fauna silvestre da Smamus, Soraya Ribeiro, responsável por realizar o resgate de animais como os gambás-de-orelha-branca, espécie que existe na Redenção, destaca que a presença dos bichos é positiva para o ambiente. Além de não terem comportamento agressivo, são responsáveis por diminuir a população de escorpiões amarelos, venenosos, que são motivo de preocupação para habitantes do centro de Porto Alegre.
— São animais acostumados a viver em ambiente urbano. Resíduos orgânicos mal acondicionados, como restos de comida ou de ração de animais domésticos, atraem os gambás. Além disso, eles também podem se alimentar de outros pequenos animais que podem causar danos ao humano, como o escorpião amarelo — diz Soraya.
O que diz a Smamus
A secretaria se manifestou por meio de nota; leia a íntegra:
"A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) informa que dois gambás encontrados mortos, por causas desconhecidas, no Parque Farroupilha (Redenção), foram encaminhados pela equipe técnica à Universidade Federal do Rio Grande do Sul para realizar exame de necropsia. O outro gambá que estava lesionado foi levado por voluntários à ONG Voluntários da Fauna para atendimento.
A Secretaria já protocolou registro de ocorrência na Delegacia Virtual de maus-tratos contra animais e solicitou reforço da Guarda Municipal para intensificar a ronda no parque, principalmente à noite, a fim de inibir possíveis agressões aos animais. A Secretaria informa ainda que já acionou os órgãos competentes para serem investigadas as causas e os responsáveis pela morte dos animais.
O Comando Ambiental da Brigada Militar e a Polícia Civil foram oficiados para apurarem os fatos e a possível ocorrência de crime ambiental contra animais silvestres. Também foi oficiado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) para que, no âmbito de sua competência, auxilie nas investigações e implementação de medidas preventivas e fiscalizatórias.
A Secretaria informa que a Equipe de Fauna Silvestre atua diariamente no resgate de animais em situações de risco, mas não tem poder de investigação. A orientação é que, quando for encontrado algum animal morto ou em risco na Capital, que sejam notificadas as autoridades competentes para que sejam tomadas as devidas providências.
Ao avistar um animal silvestre em situação de risco, entre em contato pelo canal 156 ou pelo whatsapp 3289.7517."