Em reportagem publicada no DG dia 6 de maio, testei as condições de acessibilidade do Trecho 1 – o chamado Parque Moacyr Scliar – da orla do Guaíba. Na semana seguinte à publicação da matéria, a concessionária GAM3 Parks, responsável pelo trecho, enviou fotos de algumas melhorias realizadas no local.
Como mostrei anteriormente, havia degraus entre o início do deque e o passeio cimentado. Ali, uma espécie de rampa de madeira foi colocada para facilitar o acesso. Nesta quarta-feira, fui conferir o que mudou.
Ao chegar, dois representantes do consórcio aguardavam para acompanhar o teste. A certa distância, já foi possível verificar que o acesso colocado era bastante íngreme, o que poderia impedir ou, pelo menos, dificultar a subida e descida.
Na primeira tentativa, faltaram forças nos braços para transpor o obstáculo. Ao tentar novamente, a cadeira pendeu para o lado esquerdo e por pouco não virou. Na descida, o perigo era ainda maior, pois poderia tombar para a frente.
O insucesso do teste foi acompanhado de perto pelos funcionários da GAM3, que concordaram que a solução encontrada não foi a ideal. A madeira ali pregada era pequena, aumentando ainda mais o ângulo da inclinação. O certo seria uma rampa alongada, que possibilitasse a subida e descida de forma facilitada.
A responsável pelas melhorias prometeu pensar em alternativas melhores: uma estrutura de metal ou até mesmo uma continuação do passeio público, cimentada e que fosse até o início do deque.
Em conversa com a reportagem, a GAM3 contou que, no dia em que as melhorias foram feitas, dois cadeirantes passavam pelo local, e aproveitaram para fazer um “test-drive”. Ficaram satisfeitos, mas um deles usava cadeira motorizada, o que, por si só, já facilita a transposição de qualquer obstáculo. Uma cadeira manual, por outro lado, demanda força física durante o trajeto. Um dos representantes que acompanhou a tentativa frustrada da reportagem do DG resumiu bem o problema:
– Se tu não consegues subir, então não é acessível para todos.
A concessionária se mostrou aberta a críticas e sugestões, mas levantou uma questão fundamental. Em muitos casos, as mudanças estruturais passam por outras instâncias, o que acarreta em negociações e em muita demora até serem encontradas soluções. No que compete à GAM3 Parks, há vontade de adequar a Orla a todos os públicos:
– O intuito da concessionária é resolver o mais rápido possível e de forma eficaz.
Nesta quinta-feira, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) se reuniram com a concessionária da Orla Moacyr Scliar, GAM3 Parks, para discutir soluções para a acessibilidade no trecho 1 da Orla. A Smamus explicou quais serão os próximos passos:
– Sobre a rampa provisória de madeira, instalada pela concessionária como teste, houve a avaliação de que não estaria de acordo, visto que ainda se manteve um desnível maior que 5 milímetros. Nos locais onde há desníveis, serão feitas rampas de concreto. O projeto para a execução da obra está sendo discutido pela equipe técnica da prefeitura.
A rampa ideal
Construir rampas para facilitar o acesso de pessoas com deficiência não é tarefa simples. Há regras instituídas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mais precisamente, pela NBR 9050:2020 que diz respeito à acessibilidade em edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Segundo a norma, “uma rampa acessível é aquela que permite sua utilização plena por qualquer indivíduo, seja ele portador de necessidades especiais ou não, com todas as adaptações necessárias para a realização desse uso”.
De acordo com a ABNT, a declividade – inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal – deve ser igual ou superior a 5%. Mas como fazer esse cálculo?
Basta dividir a altura do desnível (h) pela distância da rampa no plano horizontal (d). Em seguida, multiplicar por 100. Por exemplo: se tivermos um desnível de 2 metros e um comprimento de rampa de 40 metros, a inclinação dessa rampa será de 5%. Ou seja, ela está dentro da norma.
Outras melhorias
Apontadas na reportagem anterior como um dos problemas a serem solucionados, as imperfeições do passeio público começaram a ser consertadas. Onde antes havia uma pequena cratera, encontra-se agora uma faixa de cimento, visível ao olhar, mas imperceptível no transitar. Os demais buracos devem ser reparados em breve.