Furtado, vandalizado e sem eventos desde 2020, o Teresópolis Tênis Clube (TTC) decidiu vender o terreno de 17 mil metros quadrados onde está localizada a atual sede, na Avenida Engenheiro Ludolfo Boehl, número 388. Com negociação avançada, a diretoria do tradicional clube de Porto Alegre espera quitar a dívida trabalhista e tributária da instituição, estimada em R$ 5 milhões, e ainda comprar outro terreno, onde será construída uma nova sede.
A transação é confirmada pelo conselheiro Cléber Martins, que acompanha as tratativas. Segundo ele, faltam apenas detalhes formais para a finalização da venda, como questões de documentação. Mesmo assim, não há prazo para que o negócio seja concluído, e o nome do comprador não é revelado.
— É uma tristeza. Mas na realidade foi preciso agir com a razão. Se não, ia se perder tudo — comenta Martins, que frequentava o clube com o pai desde a década de 1960.
O cenário atual contrasta com o tempo de glória do TTC, marcado pelas famosas festas de Carnaval das décadas de 1980 e 1990. O clube foi fundado em 1944 para a prática de tênis, mas é lembrado até hoje pelo baile Verde e Branco, as cores oficiais do clube. O evento reunia milhares de foliões e abria a programação carnavalesca de Porto Alegre. Há relatos, inclusive, de casais que se conheceram nos salões do TTC e, depois, formaram famílias.
Na última década, a agremiação passou por dificuldades financeiras, mas conseguia se manter com a realização de eventos. A partir da pandemia, no entanto, a situação se tornou insustentável. Como as aglomerações foram proibidas no período de maior restrição, a entidade ficou sem renda e sem condições de honrar as contas mais básicas.
— O clube já vinha apanhando, muitas dívidas, vinha se mantendo com aluguéis de espaços. Tinha uma dívida muito longa com a CEEE. Quando deu a pandemia, foi a pá de cal. O clube não conseguiu mais, teve corte de luz e água. E o número de sócios era muito pequeno naquela ocasião, não comportava mais suprir as necessidades — explica o conselheiro.
No início de 2021, o Teresópolis foi saqueado e depredado, e chegou a ficar sem presidente naquele período. O atual mandatário, José Alberto Coelho, não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.
Recentemente, a situação do Teresópolis voltou a chamar a atenção com a viralização de um vídeo com mais de 60 mil visualizações em uma rede social. As imagens mostram o abandono da estrutura do clube. É possível ver que o mato tomou conta de espaços abertos, as árvores cresceram e o banheiro virou depósito de móveis estragados. As piscinas estão vazias e sujas, enquanto o ginásio, que já sediou campeonatos, não tem mais nem mesmo telhado. Diversos troféus aparecem espalhados no chão, em meio a lixo e escombros.
A reportagem solicitou o acesso à sede atual, mas não obteve autorização da diretoria. Conforme Martins, os poucos membros que ainda dão contribuições financeiras ao Teresópolis custeiam a vigilância 24 horas do local para evitar novos episódios de furtos.
Tempos áureos
Nascido em uma residência ao lado do Teresópolis, o representante comercial Ricardo Eckert lamenta a situação atual do clube. Ele atribui a crise à mudança de hábitos das pessoas, citando a presença mais comum de piscinas em condomínios de classe média, a oferta de festas e bailes por um número maior de casas noturnas, a instalação de dezenas de academias por preços acessíveis e a verticalização do bairro Teresópolis.
— O fechamento do clube é um triste capítulo na história do bairro, assim como o fechamento do Colégio Cruzeiro do Sul, em 2003. O bairro está em transformação. Em alguns aspectos, parte significativa da sua história terminou — avalia Eckert.
O representante comercial relembra as grandes festas de Carnaval realizadas no clube a partir de 1979, que já tiveram até Neguinho da Beija-Flor como mestre de cerimônia. Os bailes adultos aconteciam nas sextas, nos domingos e nas terças-feiras. Já os jovens se divertiam nas tardes de sábado e segunda-feira.
— O Verde e Branco acabou impulsionando a criação de outros bailes pré-carnavalescos. Quinta-feira tinha o baile municipal, o Inter criou um baile pré-carnavalesco, o Grêmio também. Tinha baile quase todos os dias antes do Carnaval durante a década de 1980, e o mais concorrido de todos era o Verde e Branco — diz Eckert, que também participava dos festejos.
À época, os clubes eram o principal destino dos foliões que ficavam na cidade durante o feriado de Carnaval. Nomes como Paulo Roberto Falcão, Ronaldinho Gaúcho e Paulo César Tinga foram alguns dos que frequentaram o baile. Ronaldinho, em especial, marcava presença seguidamente no clube. O jogador promovia festas para familiares e amigos, com direito a pagode, churrasco e futsal.
Em 10 de julho de 2002, apenas 10 dias depois da conquista do pentacampeonato mundial no Japão, Ronaldinho foi a grande estrela de uma festa de recepção no TTC. O público lotou o salão de festas para ver o jogador, que subiu ao palco para cantar um samba com calça e casaco de couro preto e camiseta e bandana da cor amarela.
Conforme a coluna de Leandro Staudt, o baile do TTC chegou a ter transmissão ao vivo na televisão e reunia personalidades da cidade, como artistas, políticos e jogadores de futebol. Homens e mulheres usavam fantasias de luxo. As festas fizeram sucesso até a década de 1990, enquanto as últimas edições ocorreram no início dos anos 2000.
Na década de 1990, grandes atrações nacionais e locais passaram pelo Teresópolis, como Kid Abelha, O Rappa e Claudinho e Bochecha.
Nova área
A área onde será comprada e instalada a nova sede ainda não está definida e não há detalhes de como será a sua configuração. Segundo o conselheiro Cléber Martins, o TTC pretende comprar um terreno que também fique no bairro Teresópolis, onde está a sede atual. Deverá ser um terreno menor, com uma proposta um pouco diferente da anterior.
— Vai ressurgir, começando com as confrarias. Vai começar uma vida nova — projeta o conselheiro.