Já confirmada por pesquisadores e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a chegada das temidas palometas ao Guaíba preocupa pescadores que costumam lançar suas iscas na orla de Porto Alegre e em municípios próximos.
Adeptos da pesca sustentam que a proliferação se tornou perceptível nos últimos dois meses, relatam ataques dessa espécie a peixes presos em redes e até mordidas em humanos.
— Faz uns dois meses que chegaram. Chegaram em grande quantidade e estão afastando outros peixes em alguns lugares — afirma o morador da Capital e pescador por hobby João Dias, 67 anos.
Segundo Dias, quando a concentração desses peixes carnívoros é muito grande, outras espécies tendem a rarear. Também ocorrem ataques a espécimes de outros tipos que estão presos em redes de pescadores antes de serem recolhidos.
— Às vezes, quando puxa a rede, vêm só a cabeça e o espinhaço. A palometa já comeu o resto — conta Dias.
O temor é de que a invasão acabe por comprometer a captura de outros peixes, como cará, pintado ou piava.
Ele também já observou a presença da também chamada piranha-vermelha em pontos mais distantes da Região Metropolitana, como a Praia de Paquetá, em Canoas, onde tem uma casa voltada para a prática da pesca na confluência dos rios dos Sinos e Jacuí:
— Por lá, já tem pescador profissional apavorado.
Neste domingo, segundo o pescador Emerson Dornelles, 42 anos, as condições naturais não estavam muito favoráveis ao aparecimento das palometas nas redes ou anzóis na Capital. A correnteza mais forte, resultado das chuvas intensas dos últimos dias, fez com que não tivesse pescado nenhuma delas ao longo do dia nas proximidades do píer do Parque do Pontal, em Porto Alegre. Mas, na semana passada, confirma que pegou duas piranhas-vermelhas na mesma região.
— Pesco no Guaíba há uns 20 anos, e só nos últimos dois meses vi elas por aqui. Faz dois meses que as palometas vêm se encostando — confirma.
Dornelles conta ainda que, recentemente, um sobrinho acabou mordido por um desses peixes durante um acampamento em Eldorado do Sul, no lado oposto do Guaíba:
— Eu pedi para ele lavar uns pratos na água, e acabou mordido no braço. Não foi nada mais grave, mas parecia uma mordida de gente.
Além do Guaíba, a palometa já foi encontrada em regiões da Bacia do Jacuí e da Lagoa dos Patos. Essa espécie é considerada exótica, ou seja, não é natural dessas águas, mas oriunda da Bacia do Rio Uruguai. A principal causa apontada por especialistas para a migração é a drenagem em canais de irrigação de lavouras que retiram a água de uma bacia e deságuam em outra.