O projeto A Cor da Voz, criado em 2020 em forma de podcast, visa levar o entendimento sobre relações étnico-raciais às comunidades, descentralizando o debate que, na grande maioria das vezes, ocorre em situações acadêmicas e, por vezes, empresariais. No início deste mês, a iniciativa deu novos passos, buscando expandir seus objetivos e alcançar de maneira mais efetiva seu público-alvo. O projeto criou e distribuiu, pela cidade de Alvorada, na Região Metropolitana, 27 gelitecas — coolers de bebidas personalizados e carregados de livros.
De acordo com a criadora do grupo, a produtora cultural, pedagoga e literata Tainã Rosa, os pontos, considerados pelo projeto como de democratização da leitura, estão localizados, principalmente, entre as paradas 41 e 65:
— Assim, um ambiente ocioso como a parada de ônibus acaba sendo um momento de investimento nessa literatura que tem um cunho afro centrado e antirracista, voltado para a diversidade. E não é um conteúdo somente para pessoas negras, mas, sim, para a sociedade em geral.
Além desses locais, há uma geliteca em frente à Secretaria Municipal de Educação de Alvorada e outra no bairro Formosa, onde Tainã reside.
Livros
A iniciativa lançou mais duas edições de seu livro, que também recebe o nome A Cor da Voz: o volume II, que é fundamentado nas temporadas 3 e 4 do podcast; e o volume III, que é a transcrição das temporadas 5 e 6. O primeiro volume, baseado nas duas primeiras temporadas, foi lançado na segunda metade do ano passado.
Tainã comenta que o segundo livro trata de temas de saúde e arte, como pinturas corporais, alimentação saudável, saúde mental e racismo ambiental. Já o volume III é voltado para a política de representatividade e de empreendedorismo.
Com a intenção de ampliar o conhecimento e a formação antirracista, os livros, além de estarem nas gelitecas, serão distribuídos nas bibliotecas das 31 escolas e cinco institutos da rede municipal de ensino de Alvorada. O material também está disponível em PDF no site do projeto.
A equipe principal do A Cor da Voz conta, também, com a assistente de produção cultural Bibiana Rocha e com a designer Aline Gonçalves. A fundadora, Tainã, destaca a importância da relação de proximidade com a Secretaria Municipal de Educação de Alvorada e com a Procuradoria da Mulher da Câmara de Vereadores:
— Eu sou professora da rede municipal de Alvorada, então a gente tem um canal súper aberto com estes órgãos e posso sempre contar com eles.
O projeto, que também possui parceria com Instituto Federal do Rio Grande do Sul de Alvorada, está vinculado ao Instituto de Letras da UFRGS, através do Núcleo de Extensão do Projeto Quem Conta um Conto.
Podcast já foi ouvido em mais de 30 países
A criação do A Cor da Voz surgiu a partir de uma inconformidade de Tainã:
— Eu estava vendo que pessoas que realmente precisavam fazer parte do debate de questões étnico-raciais não estavam envolvidas. Queremos que pessoas comuns, da sociedade em geral, consigam participar de um debate racial, e isso dentro de todos os tipos de ciência, não só da ciência política ou de direitos humanos. O podcast tem episódios sobre educação, arte, cultura, saúde, empreendedorismo, que, por muitas vezes, são áreas em que a negritude não é pensada.
Nascida e criada em uma família de contadoras de histórias, Tainã viu uma oportunidade de unir todo seu aprendizado, dentro e fora da sua formação, para compartilhar vivências de pessoas que sofrem e lidam com o racismo diariamente. Assim, mostrando à comunidade um novo olhar e um novo jeito de encarar determinadas situações, sendo você vítima ou não do racismo.
Conquistas
Atualmente, o podcast já foi ouvido em 32 países e conta com nove temporadas. Segundo a fundadora, a 10ª temporada também será lançada ainda este ano, oportunizando, assim, pelo menos, mais dois volumes do livro A Cor da Voz.
No próximo mês, o projeto terá mais um momento especial. Tainã também atua como uma das coordenadoras do Seminário de Direitos Humanos dentro do Fórum Mundial da Unesco, que ocorrerá em Buenos Aires, na Argentina, entre 20 e 24 de março. Por lá, a ideia da produtora é gravar mais dois episódios do podcast.
— Acho que já estamos colhendo um pouco dos resultados. Tenho um depoimento de uma senhora de 80 anos falando que achava que nunca ia poder ter esse tipo de pensamento sobre a negritude. E isso, pra mim, já é um resultado expressivo de como o A Cor da Voz muda vidas. As pessoas negras se reconhecendo como importantes e as não negras percebendo quanto essa formação pode ampliar e aprimorar os conhecimentos, sejam eles escolares ou não — comenta, com orgulho, Tainã.
Acompanhe o projeto:
Produção: Leonardo Bender