A instalação de gaiolas para a captura de gambás que circulam pelo Parque da Redenção, nas imediações do Refúgio do Lago, pautaram um protesto na noite de quinta-feira (9). Após a repercussão, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Capital (Smamus) orientou os gestores do complexo, que retiraram as armadilhas nesta sexta-feira (10).
A presença das gaiolas foi percebida na tarde de quinta por frequentadores do parque que foram até o local questionar a presença das armadilhas. Funcionários informaram que a finalidade seria a captura dos animais. Durante a noite, um grupo com cerca de 20 integrantes do coletivo Preserva Redenção organizaram uma manifestação pedindo a retirada dos equipamentos.
— Eles disseram que os gambás estavam acessando a área deles. Argumentamos que ali não é uma área de humanos, mas uma área dos gambás, um ambiente silvestre, e questionamos se eles tinham autorização — conta Eduardo Viamonte, conhecido como Cara da Sunga, que faz parte do coletivo e participou do ato.
Hábitat natural
A bióloga e mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Hosana Piccardi, explica que não é possível retirar os animais sem a realização de um levantamento populacional.
Além disso, ela pontua que não se pode transportar animais silvestres sem a devida autorização, pois eles precisam ser encaminhados a um local específico definido pelo município. O manejo de animais silvestres é proibido, conforme Art. 29 da Lei 9605/98.
— Os gambás são generalistas e prestam um serviço ecossistêmico de graça para nós, ainda mais nesta época em que estamos vivendo. Eles são dispersores de sementes e, além disso, se alimentam de escorpiões e aranhas — comenta.
A especialista faz uma analogia entre um problema frequente enfrentado por moradores de áreas urbanas que sofrem com a infestação de morcegos e o caso do Refúgio do Lago, local onde gambás e mãos-peladas habitam historicamente, segundo Hosana.
— Um exemplo é o problema dos morcegos. Quando tu estás com problemas com eles na tua casa, não se pode matar ou simplesmente remover. É preciso fechar as entradas. É preciso saber os patógenos, doenças que ele pode levar para outro local e transmitir a outros animais. A solução é conviver e respeitar — finaliza.
Empresa terceirizada
Pedro Santarem, um dos sócios do Refúgio do Lago, argumenta ter se tratado de “quase ingenuidade” por parte dos gestores do complexo, que contrataram uma empresa terceirizada para remover os animais do local sem consultar a prefeitura.
— Como implementamos o Refúgio no meio do parque, deparamos com o fato de ter animais, que, nessa ocasião, são os gambás. Mas começamos a ter problemas com crianças e pets. Já teve pet indo pra cima dos gambás, por exemplo — diz Santarem.
No entanto, o que motivou a instalação das gaiolas foram invasões dos filhotes à dispensa do local para furtar alimentos. Santarem afirma que a medida visava, também, a preservação dos animais, que poderiam sofrer algum tipo de intoxicação alimentar.
— Eles os capturariam e colocariam de volta nas árvores, onde já existem tocas, mas dentro do parque. Foi um despreparo nosso de não saber lidar com o animal silvestre. Consultamos a Secretaria (Smamus) e eles nos orientaram a partir de hoje — explica.
O empresário diz que vai acatar as orientações da prefeitura e que o Refúgio vai providenciar uma vedação melhor do estoque. Também ressalta que a manifestação do coletivo foi legítima e que pretende estabelecer uma relação amistosa, visando os interesses dos frequentadores da Redenção.
Notificação
Nesta sexta-feira, a Smamus notificou o Refúgio do Lago pedindo a retirada das gaiolas. Em nota, a Secretaria orientou aos restaurantes para que “mantenham bem fechadas as lixeiras para que os animais não se aproximem em busca de comida”. No texto, a pasta também reforçou “a importância e a necessidade de preservação da fauna e flora das áreas verdes de Capital como forma de garantir o equilíbrio dos ecossistemas locais”.
Como evitar problemas com gambás
Os gambás têm hábitos noturnos, vivem em árvores e têm ampla variação nas escolhas alimentares. Eles comem frutas, folhas, raízes, insetos, larvas, ovos e até pequenos roedores e mamíferos.
Para evitar a aproximação desses animais, seguem algumas orientações:
- Evite acumular lixo nos quintais e áreas de serviço;
- Não deixe a ração de cães e gatos exposta;
- Mantenha telhados vedados, para evitar que gambás se alojem nos forros.