A agente de ação social e Promotora Legal Popular (PLP) Maria de Lourdes Covacci Vieira, 61 anos, moradora do bairro Guajuviras, de Canoas, encerrará seu ano com um sonho a menos na lista de desejos. Isso foi possível porque ela é uma das 70 participantes do curso de capacitação digital, ofertado pela UniRitter em parceria com a Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos e com a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), para trabalhadoras domésticas e PLPs.
A professora Vanessa Kopp, que é uma das coordenadoras do projeto, conta que a ideia surgiu a partir do curso de formação de PLPs realizado no primeiro semestre deste ano. Na oportunidade, foi percebida a necessidade de ensinar estas mulheres a mexerem em computadores e celulares, para que assim possam ajudar outras pessoas e desenvolver melhor suas profissões.
Foi o caso de Maria, que contou à reportagem que possui um computador à disposição em seu trabalho, mas fazia tudo pelo celular por não saber usar a máquina.
Curso
— Eu sempre tive o sonho da alfabetização digital, mas como todos os cursos custam muito caro eu acabava não fazendo. Quando abriram as vagas, eu fui uma das primeiras a me inscrever — conta, empolgada, Maria.
As aulas, que iniciaram no fim de outubro, ocorrem uma vez na semana e contam com duas turmas, as quais são divididas entre manhã e noite. São sete encontros, sendo o último uma certificação. O projeto é coordenado pelos professores Vanessa, da Educação, e Vinícius Cassol, de Tecnologia. Porém, quem ministra os encontros são 18 alunos da universidade, que possuem em sua grade curricular cursos de extensão, que são desenvolvidos entre faculdade e comunidade.
Os alunos da UniRitter desenvolveram uma apostila com dicas de como manusear o computador, bem como usar ele. Além disso, nos encontros, são explicadas funções básicas, tais como escrever um texto no Word. Maria fazia relatórios de atendimentos e até mesmo currículos à mão por não saber utilizar a máquina. Mas ela afirma que, a partir de agora, terá o computador como aliado.
A procura pela alfabetização digital foi grande e contou com quase 150 inscritas. As mulheres que não foram contempladas com este curso estão em uma lista de espera para um próximo, que possivelmente será realizado. A seleção deu prioridade às PLPs e às trabalhadoras domésticas que residem perto da faculdade, localizada no bairro Mario Quintana, na zona norte da Capital. Todas as 70 participantes recebem vale-transporte e lanche no intervalo das aulas. A maioria delas possui idade entre 40 e 60 anos.
Empoderamento
A coordenadora da área de trabalho doméstico da Themis, Jéssica Miranda Pinheiro, 33 anos, conta que a última aula do curso será sobre racismo estrutural, feminismo e outros assuntos que empoderam as mulheres para passar esse conhecimento às outras pessoas.
— É importante elas terem acesso a este tipo de conteúdo para que, posteriormente, possam pesquisar mais sobre isso nos computadores e celulares. A promoção do empoderamento feminino é de grande valia, elas precisam ser incluídas nesta discussão — afirma Jéssica.
Informação sobre os direitos na palma da mão
A Themis – Gênero Justiça e Direitos Humanos e a Fenatrad, com apoio do Prêmio Desafio de Impacto Social Google de 2016, desenvolveram um aplicativo chamado Laudelina, que tem como objetivo a divulgação dos novos direitos e a criação de uma rede entre as trabalhadoras domésticas e seus sindicatos.
O aplicativo, que pode ser acessado pelo computador ou ser baixado em celulares com o sistema Android, possui manual sobre os direitos das trabalhadoras domésticas, calculadoras de salário, benefícios e rescisão contratual, entre outras informações sobre a profissão. Jéssica conta que o aplicativo está passando por um processo de atualização, para que fique mais leve e possa ser baixado em celulares com o sistema IOS. O aplicativo pode ser acessado pelo link laudelina.com.br/app.
Dados
Segundo dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5,7 milhões de brasileiros são trabalhadores domésticos. Dentro deste número, as mulheres representam 92%, das quais 65% são negras.
Ainda segundo dados da Pnad Contínua, a idade média destas mulheres é de 43 anos, sendo que 51,6% delas são chefes de família.