No calor de uma tarde de sábado de 30°C à beira do Guaíba, em Porto Alegre, quase nem dá para imaginar querer esquentar o corpo ainda mais, mas esse é o preço que se paga pelo prazer de degustar as cachaças, gins e licores gaúchos que estão sendo expostas no Alambique Embarcadero, um festival de destilados que ocorre desde quinta-feira (10) até domingo (13). Para receber as nove cachaçarias e os visitantes, foi montada uma estrutura de toldos sobre o gramado central do Cais Embarcadero. A entrada é franca.
Quem passa pelos estandes é logo convidado conhecer sobre o processo de fabricação das bebidas e a experimentar toda sorte de sabores de aguardente. A provinha é para incitar a compra das garrafas, que custam de R$ 30 a R$ 120, aproximadamente. Também dá para experimentar as cachaças misturadas com polpas de fruta, em drinks feitos na hora pelo estande do Espaço 512. O de mais sucesso tem sido a caipirinha Maracangalha, que leva cachaça de pimenta, maracujá, gengibre e outros ingredientes secretos.
O evento tem curadoria da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar e Seus Derivados do Estado do Rio Grande do Sul(Aprodecana) e apoio do Sebrae e da Prefeitura de Ivoti, cidade que trouxe para o evento três das cachaçarias que estão expondo no Cais: Weber Haus, Bockorny e Casa Buchmann. O intuito do município é tornar mais conhecida sua tradição na produção de destilados e divulgar o Festival de Cachaça que ocorrerá em agosto de 2023.
— Ivoti é o terceiro município com maior registro de produtos de cachaça no Brasil e estamos mostrando isso aqui em Porto Alegre. Este evento também é uma junção de forças entre as cachaçarias gaúchas pra termos mais contato com os clientes e provarmos a eles que aqui no Rio Grande do Sul temos cachaças excelentes, melhores inclusive do que as cachaças mineiras que as pessoas têm o hábito de elogiar — afirma Matheus Felipe Weber, 28, diretor de marketing da cachaçaria Weber Hauss.
Descendente de alemães, a Weber Hauss começou em 1948 a vender sua cachaça e hoje exporta bebidas para 27 países, atividade que equivale a 45% do seu faturamento. A bebida que está fazendo mais sucesso no estande é a cachaça envelhecida em barricas de amburana, de paladar floral e suave, e também a cachaça seis anos, mais envelhecida e amadeirada.
Quem aproveitou para fazer um pequeno estoque de garrafas da marca de Ivoti foi o gerente de produtos Leandro Sarmento, porto-alegrense de 42 anos:
— A que mais me surpreendeu foi a cachaça de jambu, que tem esse lance de deixar uma leve dormência na boca. Mas houve outras que despertaram meu interesse, por isso comprei várias garrafas diferentes pra ir consumindo devagarinho.
Além das marcas de Ivoti, outras cachaçarias marcam presença: Da Chica e 4D Destilaria, de Porto Alegre; De Arcanjo, empresa de Maquiné; Filippini, de Erechim; Velho Alambique, de Santa Tereza, e Casa Bucco, de Bento Gonçalves. De acordo com Matheus Ismael Menegotto, 32, que é produtor da destilaria de cachaças orgânicas Casa Bucco e também vice-presidente da Aprodecana, o evento é uma primeira edição necessária para que se abram novas portas para iniciativas do tipo no RS.
— O que acontece hoje, na prática, é que os produtores de cachaça gaúchos se mobilizam e participam de diversos eventos do ramo em Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, no intuito de levar a cachaça gaúcha a nível nacional. Mas há anos existia uma demanda reprimida por um evento de cachaça gaúcha pensado para o público gaúcho conhecer novos produtos e para ajudar a desenvolver mais os produtores — afirma Matheus.