Cabeleireiro que transformou seu salão em uma espécie de galeria de arte no centro de Porto Alegre, Paulo Azevedo morreu nesta semana, aos 52 anos. Paul, como era conhecido, cortava o cabelo de artistas visuais, músicos, atores, jornalistas, entre outros públicos, mas havia fechado o estabelecimento que manteve por 33 anos na Rua Marechal Floriano em 2021, em razão da pandemia de coronavírus.
O salão era abarrotado de pinturas, desenhos, sombrinhas coloridas, luminárias exóticas, objetos de antiquário ou achados no lixo — Paul enfeitou tudo de forma que “nada combinasse com nada e tudo se entendesse”, como disse a GZH em 2021. Cada vez que o cliente ia ao Salão do Paul, o lugar estava diferente.
O ambiente refletia o seu corte de cabelo, artesanal e desconstruído. Carregava muito da sua própria personalidade também. Paul era um artista e "amava o belo", segundo a cliente e amiga Cida Pimentel, produtora musical. Ela o define como a fusão do artista plástico Andy Warhol com o escritor Oscar Wilde.
— Ele não parecia um cidadão de Porto Alegre. Era tão cosmopolita, era tão maravilhoso. E sagaz, chique, leal, amigo — descreve ela.
Na entrada do salão, havia duas plaquinhas que davam um empurrãozinho para ousar: “Cabelo cresce”. E ele oferecia aos clientes um “shot de autoestima”, como escreveu a jornalista Maria Rita Horn em artigo na época do fechamento da casa. Paulo era um homem tímido, mas gentil, que mesmo sem ver a ver por um tempo, lembrava de detalhes da sua vida — perguntava do trabalho, das viagens, da mãe e dos irmãos.
Ao fechar o negócio, Paulo foi convidado a voltar a trabalhar com os tios, com quem aprendeu a profissão de cabeleireiro aos 13 anos. Ormandin dos Santos Azevedo, 71, conta que ele não foi trabalhar na última quarta-feira (29) no salão da Avenida Independência.
Como o sobrinho não atendia às ligações, Santos foi com os bombeiros até o apartamento de Paulo, na Rua dos Andradas, onde o corpo foi encontrado. Ele morreu de causas naturais, segundo o tio, mas não há confirmação do que causou o óbito.
— Foi um grande guri, tinha uma alma muito boa — diz o tio.
O velório será a partir das 23h no cemitério São Miguel e Almas, na capela L, e o sepultamento ocorre às 10h deste sábado (2).