Porto Alegre estava lá embaixo, parecendo tão pequena e pacata. Mas eu não tive tempo de admirar a paisagem a quase quatro mil metros de altura. Estava ocupada recapitulando as três funções que me deram: segurar nas alças do equipamento, manter a cabeça para cima, lançar as pernas para trás. Esqueci tudo quando abriram a porta do avião e uma galera começou a se pendurar para fora, uma ventania só. Saltaram seis ao mesmo tempo, para dar as mãos durante a queda livre, depois mais meia dúzia separadamente. O instrutor Maikon Cristiano Machado, o Pereba, recapitulou comigo: alças, cabeça, pernas.
— Qual é a regra mais importante? — emendou.
— Não morrer.
— Sim, isso é interessante. E mais o que?
— Seguir as recomendações.
— É para se divertir, guria!
Foram essas suas últimas palavras para mim. Digo, dentro daquele avião, gente, bate na madeira. Agachados na porta, ele ainda faria uma contagem para o salto, mas isso eu não ouvi mais. Só lembro de estar dando cambalhota no ar, sem noção de onde ficava o céu e onde ficava o chão.
Milhões de pessoas já saltaram de paraquedas, eu sei, e poucas foram tão dramáticas contando. Mas é que eu já me aventurei um bocado nessa vida de repórter, voei de parapente, balão e planador, pilotei veleiro, fiz rapel em cachoeira e wakeboard no Jacuí. Saltar de paraquedas foi a coisa que me deixou mais nervosa.
Pereba não tratou de amenizar essa sensação em terra, enquanto me ajudava a vestir o equipamento. Primeiro lhe apresentaram como o estagiário, disseram que só tinha saltado com hamster até então. “Falando sério agora”, perguntei há quanto tempo fazia isso. Ele não respondeu, só riu.
— Chegou nosso Uber — disse enquanto o avião se aproximava.
Nem desligaram o motor do Cessna 208 Caravan, que recém tinha voltado do último translado. Embarcamos rapidinho, 13 paraquedistas e eu. Sentamos enfileirados em dois bancos compridos, praticamente abraçados na mochila do colega. Pereba enganchou o equipamento dele no meu e brincou que a partir de então a gente era um só.
Quando o avião atingiu dez mil pés, soou um apito. O pessoal se cumprimentou com "soquinhos", desejando um bom salto. Tão empolgados e confiantes, eles.
Essa hora que eu descrevi ali em cima, de quando abrem a porta lateral do avião, é a mais tensa e, estranho, também a mais gostosa de lembrar. Parar diante daquele precipício de ar, sem nenhum cercadinho, sem uma rede de proteção, é uma sensação maluca demais. Ainda bem que não era uma das minhas três incumbências o impulso de pular, foi o Pereba que fez o movimento. Ou estaríamos lá até agora.
A gente saiu fazendo um looping, emendando pelo menos 40 segundos de queda livre "deitados" de barriga para baixo. Tentei gritar, mas acho que tinha tanto ar entrando na minha boca que não sobrava espaço pra voz sair. Não tenho muita memória do que fiz nessa hora, mas as imagens gravadas pelo paraquedista que estava conosco, Alexandre Beltrão, me mostram tentando reproduzir a mão chifrada de metaleiro, sabe?! Não é um gesto que costumo fazer.
A 1,5 mil metros de altura, o instrutor aciona o paraquedas, você sente um solavanco e uma sensação imediata de paz. Ainda é bem alto, mas tudo parece tão calmo depois dali. Um passeio em comparação ao pandemônio de sensações vividas segundos atrás.
O pouso foi igualmente tranquilo, só precisei levantar as pernas e chegamos ao chão devagarinho. Segundos antes, já recuperada a função da fala, voltei a perguntar para o Pereba há quanto tempo ele faz isso. Vinte anos, desde os 14 de idade.
Os saltos de paraquedas são uma novidade em Porto Alegre. O Centro Gaúcho de Paraquedismo (CGP), de Novo Hamburgo, já tinha feito atividades pontuais no Aeroclube do Rio Grande do Sul, em Belém Novo, mas agora tornará elas regulares. A princípio, ocorrerão a cada dois meses.
No final de semana, ocorreram cerca de 250 saltos, entre duplos (esse que eu fiz, com instrutor), saltos de atletas e de alunos do curso de paraquedismo do CGP. A procura foi tão grande que todos os horários lotaram.
A experiência custa de R$ 640 a R$ 999, dependendo se você pede vídeo da experiência. As próximas datas em Porto Alegre e mais informações sobre os saltos podem ser obtidas na conta do Instagram do CGP.