Uma rótula na Estrada Gedeon Leite, esquina com a Jorge Pereira Nunes, no bairro Hípica, na Capital, ganhou um rosto e um nome: é a Rótula de Xangô. Por meio de uma parceria com a prefeitura, o local foi adotado por cinco anos pelo Centro Africano Xangô Agodô Tonhó.
Além da limpeza, do corte de grama, da colocação de terra, do plantio de flores e da criação de um caminho de tijolos na rótula, o centro expôs no local uma escultura em homenagem a Xangô, orixá cultuado por religiões afro-brasileiras.
— O bonito de se ver ali é que as pessoas param, tiram fotos, choram, se emocionam, principalmente quem é de matriz afro. E quem não é, aguça a curiosidade. Até a nossa ideia é não só criar um ponto de referência para nossa religião, mas um ponto turístico — explica o Pai Tito de Xangô, responsável pelo centro.
A reforma ocorreu em fevereiro, realizada pelos frequentadores da casa religiosa, e a inauguração foi feita no último dia 22.
Transformação
A ideia de homenagear o orixá que dá nome ao centro surgiu na metade do ano passado, comenta Pai Tito. A rótula se encaixou na proposta pela proximidade, já que fica em uma das vias de acesso à casa religiosa. Mas também pela condição: o local se tornou um foco de lixo e uma repaginada se mostrava necessária.
O projeto foi idealizado e desenvolvido com a ajuda do secretário-adjunto de Serviços Urbanos, Vitorino Baseggio, enquanto frequentador do Centro Africano Xangô Agodô Tonhó há quase dois anos.
— Aquilo ali é gratificante porque é um agradecimento, na verdade, que eu faço à entidade por todas as coisas que já aconteceram na minha vida — afirma.
Durante o processo, Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e Secretaria Municipal da Cultura foram consultadas. Para limpeza, corte de grama e pintura do meio fio, houve apoio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos.
Por trás da obra
Com cerca de 250 quilos, a escultura de Xangô foi feita com materiais como cimento cola, arame, pedra brita, impermeabilizante e tinta. Para transportá-la, foi utilizado um caminhão guincho e, para colocá-la sobre o pilar, um guindaste — lembra a técnica de enfermagem Ivone de Fátima Torzeschi, 58 anos, que fez a obra.
Escultura e pilar juntos têm em torno de 2,5 metros.
Ivone frequenta o centro religioso desde 2019. Já a experiência dela na área artística começou há cerca de cinco anos, quando decidiu fazer uma fonte para colocar em seu apartamento. Depois, vieram outros trabalhos, inclusive de uma escultura do mesmo orixá, com cerca de um metro, destinada ao centro.
Com ajuda do marido, ela levou por volta de 40 dias para fazer a escultura de Xangô presente na rótula. O trabalho iniciou logo após o convite que recebeu do Pai Tito na véspera de Natal.
— Eu aceitei o desafio de fazer, mas, depois que passou, confesso que "tremi na base". É uma estrutura que vai ficar no tempo (ao ar livre). Mas aí deu tudo certo — conta Ivone.
Adotando espaços públicos
O processo que o Centro Africano Xangô Agodô Tonhó realizou para adotar a rótula se assemelha a outros casos pela cidade. Atualmente, são pelo menos 164 espaços públicos, entre praças e verdes complementares (como rótulas e canteiros), que estão adotados.
A secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini, esclarece que qualquer pessoa, grupo ou empresa pode fazer o pedido de adoção, se tornando responsável pela manutenção de algum espaço ou de parte dele. Ela entende que iniciativas assim permitem que os recursos públicos sejam "potencializados" e ajudam no sentido da colaboração:
— É criar um sentimento da cidade de pertencimento, de que o espaço público é de todos, não é do município, não é da prefeitura. É do porto-alegrense e, se o porto-alegrense não cuidar, não vai ficar legal.
Para fazer o pedido, o primeiro contato pode ser feito pelo e-mail apoiepoa@portoalegre.rs.gov.br. Caso não haja algum impedimento, após visitas e documentações, a autorização é concedida.
Produção: Isadora Garcia