A entrega da arte estampada na empena do prédio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer)/Procuradoria-Geral do Estado (PGE), na Avenida Borges de Medeiros, ocorreu nesta segunda-feira (10). A pintura feita pela artista suíça Mona Caron e pelo paulistano Mauro Neri, de 65 metros de altura e 15 de largura, retrata a figura de uma mulher negra segurando uma planta, a Justicia gendarussa, conhecida como quebra-demanda — muito usada nas religiões de matriz africana.
Foram usados mais de cem litros de tinta, fornecidos pela Tintas Renner by PPG. A iniciativa integrou o Projeto de Incentivo à Arte Urbana, desenvolvido pela ONG Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (Lappus).
— Teve o processo de pesquisa, que durou aproximadamente oito anos. Ela (Mona) tem esse tema das ervas nativas, que nascem sem autorização, como um símbolo de resistência ao desenvolvimentismo, ao concreto — afirmou Marcelo Sgarbossa, diretor do Lappus.
Marcelo disse que a ideia de pintar o mural vem desde 2o13. Naquele ano, Mona havia participado do Fórum Mundial da Bicicleta em Porto Alegre. Ao pedalar pela Capital, a artista avistou o prédio do Daer e se apaixonou pela ideia de estampar uma arte sua na estrutura — a empena sem cor era como uma tela pronta para receber tinta.
Na época, ela ainda era ilustradora. Ao voltar para Porto Alegre, anos mais tarde, Mona havia se tornado uma muralista de renome internacional e estava com a ideia de pintar a lateral do prédio mais madura. No ano passado, juntou-se a Mauro Neri para tirar a ideia do papel.
— O processo foi bastante tranquilo, mas muito exaustivo por causa do sol forte que pegava pela manhã, então eles terminaram muito exaustos. Mas tivemos a ajuda do tempo, não choveu muito. Tem bastante vento naquela região, mas isso não atrapalhou — disse o diretor do Lappus.
Os trabalhos iniciaram em 29 de novembro do ano passado, com a limpeza da estrutura. Após essa etapa, uma equipe coordenada pelos artistas desenhou o esboço, e assim Mona e Mauro deram inicio à pintura. Segundo eles, o vegetal simboliza resiliência, superação e resistência. A imagem serve de inspiração para o cuidado com as pessoas, a defesa da natureza e a igualdade racial.
No evento de apresentação, que começou às 18h desta segunda-feira, esteve presente Beatriz Gonçalves Pereira, que foi modelo para a pintura. Também compareceram Mona e Mauro, além dos 30 artistas locais que colaboraram na gigantesca obra de arte.
Intervenções futuras
O secretário da Cultura de Porto Alegre, Gunter Axt, comentou que a iniciativa é importante simbolicamente para a cidade. Afirmou que esta e outras iniciativas que ocorrem na Capital estão saindo do papel, garantindo que novos grafites serão anunciados em breve.
— Estamos muito contentes, é um grande presente para Porto Alegre. O pessoal que liderou isso está de parabéns, mas reforço a importância de trabalharmos em conjunto. A cidade precisa do apoio do poder público. A empena está linda, e simbolicamente é importante também — disse.
O projeto no prédio do Daer teve o apoio do poder público e o patrocínio de empresas, pessoas físicas e instituições. No total, mais de 130 entidades se envolveram de alguma forma na ação.
— No que depender da gente nós, continuaremos com o projeto de arte urbana. É algo importante na cidade inteira. Pretendemos ter algum tipo de programa na periferia também, com aulas e oficinas de grafite — concluiu o secretário.