Conforme as investigações do Ministério Público do Rio Grande do Sul, um grupo, formado por dezenas de postos de combustíveis, acertava os preços por mensagens em grupos de WhatsApp. O esquema do suposto cartel que acontecia em Porto Alegre veio à tona com a Operação Pactum, deflagrada na manhã desta terça-feira (30).
Nas escutas telefônicas que GZH teve acesso, diálogos expõem a forma como os proprietários desses postos, que estavam sendo monitorados pelo MP, acertavam a mudança dos valores com os demais integrantes do esquema. Além de combinar os preços, os empresários ainda enviavam fotos das placas por mensagem para comprovar a alteração.
Conforme o promotor Alcindo Bastos, da Promotoria de Defesa do Consumidor de Porto Alegre, os celulares dos investigados foram aprendidos para análise dos acertos feitos por mensagens e não por ligações. A investigação começou a partir da elevação acima do normal de preços dos combustíveis na capital. A partir disso se descobriu o esquema de acerto de preços. Ainda havia pressão em quem não participava do grupo.
Confira os diálogos
“Vamos pra 5,79 agora às 14h?”
Dono de posto A: E aí?
Dono de posto B: Ô meu, vamo pra 5,79 agora às 14h?
Dono de posto A: Cara, por mim tranquilo... Vamo ver ali do... bom, tranquilo, vambora.
Dono de posto B: Eu te mando a foto ali ó, antes das 14 um pouquinho, eu vou trocar lá.
Dono de posto A: Tá, me manda que aí eu já, já faço aqui e tiro as fotos e já mando ali pras 19.
Dono de posto B: Tá, beleza.
"Nunca tocamos tão rápido os preços, em 15 minutos todo mundo se mandando whats e mudando os preços"
Mulher: Oi amor, onde é que tá?
Dono de posto: Oi, eu só passei em casa agora pra trocar os carros e tô indo, tive que trocar os preços, me atrasei, né. Queria tá aí já.
Mulher: Ahhh, o que que houve mor? Que pena.
Mulher: Não, eu queria tá aí pra tá na praia, pra dar uma caminhada, tudo, eu queria sair as duas.
Mulher: Ah, tá tri bom.
Dono de posto: Sim, mas daí começou a todo mundo se organizar assim, nunca trocamos tão rápido os preços, em 15 minutos todo mundo se mandando whats e mudando os preços.
Mulher: Que bom.
Dono de posto: Graças a Deus, colocamos com 96 né.
Mulher: Ah, e a tua voz?
Dono de posto: Não, só tô cansado né, corri o dia todo. Agora é cinco horas, eu vou passar o Fábio no posto pra tirar foto pra mandar pro pessoal, que o Antônio trocou pra mim. É, vou sair daqui umas seis e pouco.
"Vai todo mundo, vai todo mundo... duas horas, 76"
Dono de posto A: Olha só, o pessoal vai as duas horas pra 76, vamo?
Dono de posto B: Que que? As sete e meia?
Dono de posto A: 76 na bomba, né cabeça.
Dono de posto B: Ah tá, vambora então.
Dono de posto A: Então tá, duas horas tá?
Dono de posto B: Tá, mas em Teresópolis? Tá tudo...
Dono de posto A: Quando eu tô dizendo é porque vai, mimoso.
Dono de posto B: Então tá.
Dono de posto A: Não tô te perguntando, fifi, vai todo mundo, vai todo mundo... duas horas, 76. Um abraço pra ti.
Dono de posto B: Então tá, valeu.
Dono de posto A: Depois vem aí tomar um café.
"Ele é novo, ele não entende de mercado, né"
Dono de posto X: Ele botou 74 ontem ali, né?
Dono de posto Y: Tá brincando?
Dono de posto X: Daí eu digo, ô negrão, 74 os caras vão arriar. Daí agora eu vim de lá e ele foi pra 79 de novo.
Dono de posto Y: É, não, não, ele é novo, ele não entende de mercado, né.
Dono de posto X: Exatamente, mas tudo bem, tranquilo. Aí quando ele falou que te conhecia, eu disse: bah, vou p... vai ver que ele conhece mesmo, entendeu.
Dono de posto Y: Aham, não, não, ele é no lado do, ele é no lado do posto ali, tranquilo, tranquilo.
Dono de posto X: Entendi, então tá. Tá resolvido ali, tá?
Dono de posto Y: De boa.