Quem ainda não conheceu as quadras esportivas do trecho 3 da orla do Guaíba, entregue há pouco mais de um mês, pode ter dificuldade para fazer a estreia. Na ferramenta disponibilizada pela prefeitura de Porto Alegre para agendamento, algumas modalidades quase não têm mais horários disponíveis pelo próximo mês.
As cinco quadras de futebol 7 (society) são as mais disputadas: estão com todos os horários noturnos e com todos os finais de semana esgotados, seja de dia ou de noite, até o Natal.
— É mais concorrido nesses horários, quando o pessoal sai do trabalho. Usar as quadras de society, nem pensar — relata a veterinária Brenda Pires, 25 anos.
As canchas de areia tomam o mesmo rumo. Embora sejam as mais numerosas — há 12 de vôlei de praia e mais três exclusivas para beach tennis —, têm poucos horários disponíveis aos finais de semana e, para conseguir à noite, o ideal é se programar com semanas de antecedência.
Para fazer a reserva, a pessoa precisa informar nome, e-mail, telefone, CPF e profissão, mas não há um limite de agendamentos por usuário — a reportagem registrou oito reservas, algumas na mesma quadra e mesmo em horas consecutivas. Também não há um controle se quem fez o agendamento usou o espaço no horário marcado. A Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj) apela ao bom-senso dos usuários e afirma que, não havendo ninguém para entrar, pode-se usar a quadra.
Tem gente que vai até o trecho novo da orla munido com bola para tentar encontrar uma quadra. O grupo da jornalista Emanuele Fonseca, 23 anos, até tentou reservar uma cancha de vôlei de praia, mas não havia mais disponibilidade. Então começaram a jogar em uma que ainda não estava ocupada, dispostos a sair assim que o “dono” da quadra chegasse.
Algo que ela sentiu falta é de um responsável da prefeitura ajudando a orientar e coordenar a ocupação dos espaços esportivos. GZH também não encontrou ninguém entre o final da tarde e a noite de quarta. A diretora da Orla 3, Andréia Rotunno, contesta — diz que há um profissional da prefeitura, pelo menos, até as 21h —, mas admite que pode não ser tão fácil de localizar porque ainda não ficaram prontos os coletes com a inscrição “Posso Ajudar?”.
A administradora Letícia Vieira, 35 anos, chegou para jogar com seus amigos na quadra reservada e encontrou-a ocupada. Deixou as pessoas continuarem jogando até que todo seu time estivesse completo:
— Nosso grupo agendou uma semana antes. Está tendo bastante demanda porque isso aqui está um espetáculo.
Durante o pôr do sol, na quarta-feira (24), todas as quadras estavam ocupadas, com exceção da cancha de futebol de areia (que havia sido reservada no sistema). O doutorando Julio Baldasso comenta que seu grupo já foi à noite, mesmo sem reserva, ver se havia uma quadra de vôlei disponível e acabou não encontrado.
Baldasso sugere que a prefeitura crie um aplicativo para agendamentos e que inclua um sistema que comprove o comparecimento.
— O usuário podia ter que tirar foto do QR Code na hora e registrar no sistema para mostrar que compareceu — explica.
Teste de agendamento
Para testar o sistema, GZH reservou uma das únicas quadras que estavam disponíveis no final da tarde de quarta-feira, a de basquete, de número 4. Chegando ao local, às 19h05min, um trio de amigos a utilizava.
O publicitário Jordão Farias, 29 anos, acreditava que agendar era uma possibilidade, não uma obrigação, e diz que só faria se tivesse um time inteiro para um jogo. O que os amigos fariam, se quem agendou a quadra fosse de fato um grupo de jogadores, ia ser propor de jogarem juntos.
O que diz a prefeitura
Segundo a diretora da Orla 3, Andréia Rotunno, estão sendo feitos vários ajustes para que o maior número possível de pessoas possa usar as quadras.
A prefeitura avalia reduzir a janela de agendamentos — ou seja, para garantir um horário, o interessado teria que entrar no sistema semanalmente ou quinzenalmente, em vez de deixar o mês inteiro já agendado. Também quer limitar o número de reservas por CPF.
— Como faz um mês, a gente está aprendendo com a carruagem andando. Mas avaliamos fazer isso, diminuir prazo, colocar filtro, para que seja bem democrático — argumenta.
Ela reitera que, quando as quadras não estão ocupadas, é possível usá-las mesmo sem agendamento, e diz que essa “autorregulação” tem ocorrido muito bem:
— Tivemos poucos problemas, da gurizada não querer sair quando a turma do agendamento chegou.