Quinze pessoas cegas, cadeirantes ou com mobilidade reduzida conheceram o trecho 3 da Orla nesta quinta-feira (21), dois dias antes da liberação ao público. Elas foram convidadas pela prefeitura de Porto Alegre para testar a acessibilidade da nova área revitalizada junto ao Guaíba.
O teste foi feito ao longo do 1,6 quilômetro do trecho com o objetivo de apontar possíveis ajustes. O secretário municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), Pablo Mendes Ribeiro, destaca que foi contratada uma equipe de 15 funcionários especializada em intervenções em acessibilidade para a execução da obra.
— Foram investidos cerca R$ 550 mil exclusivamente em intervenções em acessibilidade — salienta o secretário.
Além das rampas de acesso, dos corrimãos próximos às arquibancadas e das vagas no estacionamento, foi executada uma rota tátil que totalizou três quilômetros, somando as partes baixa e alta da Orla, no nível da Avenida Edvaldo Pereira Paiva.
A rota é composta por piso podotátil de dois tipos, o direcional e o de alerta, utilizado para sinalizar obstáculos. Para a instalação do piso foram realizados 100 mil furos em toda a extensão do trecho.
Outra intervenção voltada à acessibilidade foi a execução de uma conexão entre a Orla e o Parque Marinha do Brasil pela avenida Edvaldo Pereira Paiva. Anteriormente, o caminho era dificultado devido ao canteiro central existente.
No local foi construída uma grande rampa acessível, que é seguida de uma passagem de nível, que deixa a via na mesma altura da calçada. Assim, não há necessidade de rampas, o que torna a travessia mais segura. Nesse acesso está localizado o mapa tátil, onde o deficiente visual terá todas as informações em Braille.
Além das intervenções para mobilidade, banheiros, vestiários e até os playgrounds possuem equipamentos para garantir acessibilidade.
Gilberto Kremer, presidente da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs), avalia que o trecho 3 é um espaço “bem aprazível, com várias opções de lazer, e a acessibilidade não está de todo ruim". Ele cita, porém, a falta de sinalização para que os cegos alcancem os bancos e o fato de não haver bandas nas quadras de futebol 7 (placas de madeira nas laterais para que cegos possam jogar).
— Penso que as pessoas vão conseguir utilizar a orla, mas talvez não com toda a autonomia. Entendo que isso ocorre pois o poder público se baseia na norma técnica, e nela tem coisas que escapam da realidade de quem tem deficiência — afirma.
A Smoi afirma que o trecho novo da orla é 100% acessível seguindo justamente as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para espaços públicos. Explica que a sinalização em piso podotátil até os bancos não é obrigatória conforme esse regramento, mas será avaliada a realização de ajustes. Com relação às quadras, afirma que após a entrega do parque público, o adotante ou a Secretaria de Esportes podem avaliar se querem fazer as adequações. Outros apontamentos feitos pelos participantes, como a falta de finalização do piso em alguns pontos, já têm previsão de ser concluídos nesta reta final de obras.
Cão guia participou do evento
A Coordenadora de Projetos e Obras para Acessibilidade da Smoi, Alda Gislaine, destaca que o trecho 3 teve uma série de avanços com base na experiência obtida no primeiro trecho revitalizado da Orla, e avalia o teste como positivo. Destaca a participação de um cão guia, que conseguiu responder com assertividade a todos os comandos do seu dono, guiando-o até os bancos e à rota tática, por exemplo.
Os testes realizados no trecho 3 contaram com a presença de representantes da Acergs, Apae Porto Alegre, Associação de Familiares e Pessoas com Autismo (Afapa), União de Cegos do Rio Grande do Sul (Ucergs) e Autismo & Vida.