— Esta é a que todo mundo se enlouquece — anuncia Damián Júnior, 32 anos, antes de a caixa de som começar a tocar os acordes de Slash, guitarrista da formação clássica do Guns N' Roses, no hit Sweet Child O' Mine.
Com as baquetas em punho, o empresário deixa os negócios de lado e encarna o baterista em pleno estacionamento público situado entre as avenidas Padre Cacique e Edvaldo Pereira Paiva, chamando a atenção de pedestres e motoristas. O que para muitos é um show a céu aberto, na realidade, é o hobby de Júnior, que passou a ocupar o espaço aos sábados e domingos para praticar novas músicas e ensaiar com o instrumento.
— Em casa, procuro não fazer barulho para os vizinhos. Para aprender algumas batidas e ritmo, tem que ser alto, aí por isso vim para a rua. Não sabia que ia chamar a atenção — diz.
Há três meses usando o estacionamento e também o Parque Farroupilha (Redenção), Júnior se empolga ao falar dos retornos que recebe das plateias improvisadas. Segundo ele, além das palmas e das buzinadas, muitos pedestres se aproximam para elogiar sua atitude.
— Tem uns que dizem: "Tu alegras nosso dia! Muito legal o que tu fazes!", outros querem contribuir, mas eu não aceito, pois estou me divertindo. Também me pedem para eu fazer um canal para que possam me seguir — comemora.
Além da interação com o público, o baterista também gosta de observar as reações das pessoas às músicas: há casais que dançam, tem quem peça a sua preferida, e até as crianças se reúnem no entorno do instrumento para curtir o som do cara.
Rock é democrático
Nascido em Lima, no Peru, Júnior se mudou ainda criança para Porto Alegre. Fã de rock, se inspirou nos norte-americanos da Red Hot Chilli Peppers para iniciar a prática de bateria com 12 anos de idade. Atualmente, além das músicas da banda californiana, também tem se dedicado a tocar Foo Fighters, que não pode ficar de fora do setlist.
— Os caras passam buzinando, gravando, do nada os carros param em eu penso: "Meu Deus, qualquer dia vão bater". O legal é que o pessoal curte o som. O rock tem isso: consegue agradar a maioria das pessoas — avalia.
Na manhã deste sábado (4) cinzento, o som de Júnior chamou a atenção de Elton Brandão, 39 anos. Ele passava de carro com os filhos, Samuel, cinco anos, e Helamã, 12, pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva, quando ouviu o instrumento. “Músico nas horas vagas”, Brandão está ensinando o mais velho a tocar bateria e por isso “foi convidado” a estacionar o veículo e prestigiar o espetáculo de Júnior:
— A única referência de bateria que ele tem (o filho) sou eu, então resolvi trazer ele. Vou trazer um baixo e tocar com ele — ri.
Tímido, o peruano diz que não é muito chegado em redes sociais, porém, está pensando na ideia de fazer um canal para ensinar os internautas a tocar na bateria as músicas originais - e não versões.
Para curtir o som de Júnior não precisa muito: aos sábados e domingos, das 9h às 12h, ele costuma a montar o instrumento na Avenida Padre Cacique ou no espelho d’água do Parque da Redenção.