As ruas de Porto Alegre ficaram mais desertas, e as igrejas, mais habitadas com o frio no Rio Grande do Sul. Diversas paróquias abriram as portas para abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade enquanto a Capital registra noites de baixas temperaturas.
A iniciativa funciona como um apoio à ação no ginásio Gigantinho, que desde terça-feira (27) serve de dormitório para os moradores de rua. Com colchões e cobertores cedidos pela instituição Mensageiro da Caridade, a promessa é de horas quentes e tranquilas de sono.
O casal Michelle, 30 anos, e Richard, 25, foi convidado por agentes da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) a se refugiar na Paróquia Santuário Nossa Senhora do Trabalho, na Vila Ipiranga, zona norte da Capital. Eles foram na noite de quarta-feira (28) e resolveram repetir a experiência nesta quinta (29).
Nas ruas há apenas dois anos, Michelle sente-se confortada quando passa uma madrugada em um espaço com teto e chuveiro.
— É terrível (ficar na rua no inverno). Só ficam os fortes. Os fracos morrem. Faz dois anos que estou na rua, não estou gostando — diz ela.
Outro ponto que conta a favor é a comida. Na Nossa Senhora do Trabalho, eles jantaram chuleta acebolada com arroz, feijão e farofa. Só voltam para a rua por volta das 8h, depois de tomar um café passado acompanhado de pão com margarina e mortadela e leite com achocolatado.
— Adorei. Capaz que não — diz Richard.
Embora só houvesse Michelle e Richard quando a reportagem esteve no local, por volta das 20h desta quinta, a Nossa Senhora do Trabalho tem estrutura para receber mais moradores de rua. A hospedagem depende da abordagem dos agentes sociais e da própria vontade dessa população em aceitar o convite.
A Catedral Metropolitana se juntou às paróquias pela primeira vez na noite desta quinta-feira. Foram dispostos vários colchonetes no Salão Nobre da construção histórica localizada na Duque de Caxias.
É primeira vez que os irmãos Sandro Garcia, 45 anos, e Leandro, 38, passam a noite em uma igreja. Na noite de quarta, acabaram dormindo ao relento somente com cobertas — não tinham sequer papelão e se acomodaram debaixo da marquise de uma loja de roupas na Marechal Floriano.
— Ontem, fez muito frio. Hoje, tá bom. Só falta a comida — disse Leandro, enrolado em um cobertor e deitado no colchonete.
Em seguida chegou a refeição: a mesma marmita com chuleta acebolada, arroz, feijão e farofa.
Apenas quatro moradores de rua estavam abrigados na Catedral, embora 14 colchões estivessem disponíveis. A previsão é que as paróquias fiquem abertas para acomodar essa população enquanto as noites forem geladas e durar a iniciativa no Gigantinho. De acordo com a Arquidiocese de Porto Alegre, seis igrejas estavam oferecendo suas dependências para colaborar com a ação, mas esse número pode variar conforme a necessidade.